Não seria ótimo aprender mais com menos tempo de Estudos? Isso é possível segundo uma enorme fonte de pesquisas científicas sobre a chamada Repetição Espaçada.

Neste artigo você vai descobrir absolutamente tudo sobre a repetição espaçada, incluindo:

• Quais são as melhores estratégias para fugir da curva do esquecimento.
• As melhores dicas práticas para usar flashcards para aprender desde engenharia de foguetes, medicina e até idiomas.
• Exatamente o porque a Repetição Espaçada funciona dado mais de 100 anos de pesquisas no assunto.

Vamos lá?

1. O que é a Repetição Espaçada?

A repetição espaçada é o ato de implementar um planejamento que distribui o estudo através do tempo (Dunlosky et. al 2013).

"A technique that ensures nearly perfect recall with minimum possible investment of time via computing optimum inter-repetition intervals" ? Dr. Piotr Wozniak

"Uma técnica que garante quase uma retenção perfeita com o mínimo possível de tempo via projeções ótimas de intervalos intrínsecos" ? tradução livre

É um princípio de estudo muito poderoso que, se bem usado, pode gerar até 50% a mais de retenção de qualquer conteúdo, seja ele para medicina, aprender inglês, direito, datas, nomes, ou até mesmo a tabela periódica inteira.

"Practice that?s spaced out, interleaved with other learning, and varied produces better mastery, longer retention, and more versatility" ? Brown

"Práticas espaçadas, intercaladas e variadas com outros estudos produzem uma melhor maestria, retenção de longo prazo e maior versatilidade" ? tradução livre.

Segundo uma apla gama de estudos, o uso da repetição espaçada ajuda 90% dos indivíduos a performar melhor em qualquer prática de estudo (Dunlosky & Nelson, 1994; Kornell & Bjork 2008; Simon & Bjork 2001, Zechmeinster & Saughnessy 1980); embora 72% das pessoas pensam que a repetição espaçada e seus efeitos não são verdades ou desconhecem suas propriedades.

...distributing learning over time (either within a single study session or across sessions) typically benefits long-term retention ? Dunlosky 2013 p.35

"Estudo espaçado ao longo do tempo (seja em uma seção de estudos ou ao longo delas) beneficia uma retenção de longo prazo" ? tradução livre.

Tome, por exemplo, dois individuos comuns, com as mesmas habilidades e potencialidades. Se um deles trabalhar cerca de 10% a mais todos os dias, este irá mais que dobrar a produtividade e conhecimentos do primeiro.

Isso porque o conhecimento é cumulativo e quanto mais você é capaz de acumular, muito mais coisas você consegue fazer.

"The more you know, the more you learn; the more you learn, the more you can do" ? Gwern

"Quanto mais você sabe, mais você aprende; quanto mais você aprende, mais você pode fazer" ? tradução livre

Flashcards e repetição espaçada distribuem a informação que você precisa acumular através do tempo, fazendo com que seus intervalos sejam ótimos, sua retenção melhore e seu tempo de estudos diminua.

Isso quer dizer uma coisa: se você souber testar-se com um bom sistema de repetição espaçada e flashcards, você estará criando aquilo que se chama de foco de longo prazo.

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"If you read a piece of text through twenty times, you will not learn it by heart so easily as if you read it ten times while attempting to recite from time to time and consulting the text when your memory fails.? ?The New Organon , Frrancis Bacon

"Se você ler um excerto vinte vezes, não irá aprendê-lo de cor tão facilmente como aprenderia lendo-o dez vezes enquanto tenta recitá-lo, vez ou outra, e consultar o excerto quando sua memória falhar." ? tradução livre.

2. Por que Ter um Sistema de Repetição Espaçada pode Salvar a Sua Vida, uma Revisão da Literatura

2.1 A Curva do Esquecimento de Ebbinghaus

As pesquisas sobre o princípio da repetição espaçada começaram em 1880 pelo alemão Hermann Ebbinghaus, que dirigiu um estudo incompleto até o ano de 1885.

Ebbinghaus buscou ensinar a si mesmo sílabas sem muito sentido para depois calcular quanto das informações ele iria reter e qual parcela dela ia-se perdendo.

Por meio de cinco anos de pesquisas, Ebbighaus notou que a maioria do conhecimento decai ao longo do tempo, principalmente nos períodos iniciais após o primeiro contato com os conceitos a serem aprendidos. Esse seria, então, conhecido como o ponto sensível da curva do esquecimento.

Na foto abaixo, esse ponto sensível é representado pela queda acentuada logo nos primeiros dias após o estudo.

Mas como você pode se beneficiar destes estudos sobre a curva do esquecimento de Ebbinghaus?

Essa resposta é simples: você deve ter um sistema de repetição espaçada que aplique revisões ao longo do tempo, principalmente neste período sensível de esquecimento.

Geralmente costuma-se usar softwares como Anki ou outros apps de repetição espaçada; mas há um conjunto de outras técnicas das quais falaremos mais adiante neste post.

Agora, quais são as bases da repetição espaçada e porque ela funciona tão bem seja com flashcards ou sem eles?

2.2 Da Curva do Esquecimento ao Princípio da Repetição espaçada, o que a Ciência Diz

Ora, se você quer usar um sistema de repetição espaçada, o que você necessita é, basicamente, testar seu conhecimento através do tempo.

Isso se chama "testar-se".

Ao longo de mais de 100 anos de pesquisa, o poder de testar-se tem sido amplamente provado. Falaremos sobre isso nesta seção.

2.3 Como Funciona a Repetição Espaçada e Porque ela Impede a Curva do Esquecimento

Como passamos, então, da curva do esquecimento, para a repetição espaçada? Ebbinghaus de fato não estudou a chamada repetição espaçada, mas a curva do esquecimento.

Na imagem acima, a curva pontilhada preta é uma projeção da curva do esquecimento de Ebbinghaus que aconteceria, caso não adotássemos o princípio da repetição espaçada.

Imagine que o primeiro ponto preto no gráfico, em 0 dias, é o período que você estuda um conceito pela primeira vez.

Sem repetições espaçadas, depois de 60 dias, lembraria menos de 10% do conceito.

É ai que entra o princípio da repetição espaçada.

O nome é autoexplicativo: você começa fazer a repetição (i.e. revisões) do conceito estudado, ao longo do tempo.

Repare que a progressão das revisões é uma P.G., e não uma P.A. Isso significa que, ao longo do tempo você terá espaços cada vez maiores entre cada revisão, indo de semanas, meses e até anos!

2.4 Mais de Cem Anos de Estudos sobre a Repetição Espaçada

Se você confia em mim, que o princípio dos teste e da repetição espaçada funcionam mesmo, você pode pular logo para a seção das técnicas que aplicam a repetição espaçada (seção 4).

Proponho-me aqui, fazer uma revisão da literatura sobre o assunto.

• Allen, G.A., Mahler, W.A., & Estes, W.K. (1969). ?Effects of recall tests on long-term retention of paired associates?. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, 8, 463-470

Este estudo mostra que testar-se uma vez após somente um dia é melhor que estudar o mesmo assunto cinco vezes em somente 24horas.

• Dunlosky J, Rawson KA, Marsh EJ, Nathan MJ, Willingham DT. Improving Students' Learning With Effective Learning Techniques: Promising Directions From Cognitive and Educational Psychology. Psychol Sci Public Interest. 2013;14(1):4-58.

Um estudo massivo feito por vários pesquisadores demonstrou que a repetição espaçada e a prática de testes são os dois maiores princípios de aprendizados já testados nos últimos anos.

• Karpicke & Roediger (2003). ?The Critical Importance of Retrieval for Learning?

Karpincke dividiu crianças em 2 grupos para estudar vocabulários de Swahili; o primeiro foi testado com questões, o segundo não. Quando ambos os grupos foram testados o primeiro lembrava 80% do conteúdo das palavras; o segundo, 35%.

• Roediger & Karpicke (2006a). ?Test-Enhanced Learning: Taking Memory Tests Improves Long-Term Retention?

Dois grupos foram divididos e testados em suas compreensões textuais em um período de 5 minutos, 2 dias e 1 semana. O primeiro grupo somente estudou e o segundo grupo fez os testes após ter lido uma vez. Após a última semana os estudantes foram testados e aqueles que leram somente uma vez e foram repetidamente testados marcaram 60% em seus testes; os outros, 40%.

• Cook 2006, ?Impact of self-assessment questions and learning styles in Web-based learning: a randomized, controlled, crossover trial?

Mostrou que estudantes de medicina já residentes marcaram pontuações mais altas quando aprendendo por questões.

• Donovan & Radosevich 1999, ?A meta-analytic review of the distribution of practice effect: Now you see it, now you don?t?:

Descobriu-se com meta-análises que o efeito do espaçamento chega ser d=.42. Isso significa que uma pessoa comum consegue lembrar 67% mais que uma pessoa que estuda somente com estudos massivos sem repetição.

• Bahrick, Harry P; Phelphs, Elizabeth. ?Retention of Spanish vocabulary over 8 years?. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, & Cognition. Vol 13(2) April 1987, 344-349;

3 grupos foram divididos para estudar vocabulários de espanhol e suas respectivas traduções; um grupo não espaçou as repetições, o outro espaçou em 1 dia, o terceiro em 30 dias. 8 anos depois as cifras foram, respectivamente: 6%, 8% e 15%.

• Pashler et al, 2003; ?Is Temporal Spacing of Tests Helpful Even When It Inflates Error Rates??

Pashler descobriu que quanto maior o espaçamento, melhor é a retenção.

• Jessica M. Logan et. Al. Metacognition and the spacing effect: the role of repetition, feedback, and instruction on judgments of learning for massed and spaced rehearsal

Mostrou que a repetição espaçada é desacreditada, embora mostre que estudantes que utilizaram fazem tem 20% a mais em memorização. Para além disso, mostrou que estudantes que deixam para estudar tudo em cima da hora creem que sabem mais do que realmente sabem, ajudando a criar a chamada ilusão da competência.

• Bloom & Schuell 1981, ?Effects of massed and distributed practice on the learning and retention of second-language vocabulary?

Dois grupos de estudantes de francês estudaram vocabulários, o primeiro com estudo repetitivo e massivo, o segundo somente através de testes. Aqueles segundos lembraram 15 palavras; os primeiros 11.

• Duchastel & Nungester, 1981: 6 months after testing, testing beat studying in retention of a history passage

• Karpicke JD, Bauernschmidt A. Spaced retrieval: absolute spacing enhances learning regardless of relative spacing. J Exp Psychol Learn Mem Cogn. 2011;37(5):1250-1257. doi:10.1037/a0023436

• Benjamin, A. S., & Tullis, J. (2010). What makes distributed practice effective? Cognitive Psychology, 61, 228?247.

• Cepeda, N. J., Pashler, H., Vul, E., Wixted, J. T., & Rohrer, D. (2006). Distributed practice in verbal recall tasks: A review and quantitative synthesis. Psychological Bulletin, 132, 354?380.

• Delaney, P. F., Verkoeijen, P. P. J. L., & Spirgel, A. (2010). Spacing and the testing effects: A deeply critical, lengthy, and at times discursive review of the literature. Psychology of Learning and Motivation, 53, 63?147.

• Dempster, F. N., & Farris, R. (1990). The spacing effect: Research and practice. Journal of Research and Development in Education, 23, 97?101

• Donovan, J. J., & Radosevich, D. J. (1999). A meta-analytic review of the distribution of practice effect: Now you see it, now you don?t. Journal of Applied Psychology, 84, 795?805

• Janiszewski, C., Noel, H., & Sawyer, A. G. (2003). A meta-analysis of the spacing effect in verbal learning: Implications for research on advertising repetition and consumer memory. Journal of Consumer Research, 30, 138?149

• Delaney, P. F., Verkoeijen, P. P. J. L., & Spirgel, A. (2010). Spacing and the testing effects: A deeply critical, lengthy, and at times discursive review of the literature. Psychology of Learning and Motivation, 53, 63?147.

• Cepeda et al 2006

Uma revisão de 184 artigos com 317 experimentos.

• Ruch 1928, ?Factors influencing the relative economy of massed and distributed practice in learning?

• Crowder 1976, Principles of learning and memory

• Dempster 1989, ?Spacing effects and their implications for theory and practice?

• Delaney et al 2010, ?Spacing and testing effects: A deeply critical, lengthy, and at times discursive review of the literature?

• Donovan & Radosevich 1999, ?A meta-analytic review of the distribution of practice effect: Now you see it, now you don?t?

• Greene 1992, Human memory: Paradigms and paradoxes

• Janiszewski et al 2003, ?A meta-analysis of the spacing effect in verbal learning: Implications for research on advertising repetition and consumer memory?

• Pavlik & Anderson 2003, ?An ACT-R model of the spacing effect?

• Balota et al 2006, ?Is Expanded Retrieval Practice a Superior Form of Spaced Retrieval? A Critical Review of the Extant Literature?

• Carpenter et al 2012, ?Using Spacing to Enhance Diverse Forms of Learning: Review of Recent Research and Implications for Instruction?

• Peterson, L. R., Wampler, R., Kirkpatrick, M., & Saltzman, D. (1963). ?Effect of spacing presentations on retention of a paired associate over short intervals?. Journal of Experimental Psychology, 66(2), 206-209

• Glenberg, A. M. (1977). ?Influences of retrieval processes on the spacing effect in free recall?. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, 3(3), 282-294

• Balota et al 1989, ?Age-related differences in the impact of spacing, lag and retention interval?. Psychology and Aging, 4, 3-9

• Carpenter, S. K., & DeLosh, E. L. (2005). ?Application of the testing and spacing effects to name learning?. Applied Cognitive Psychology, 19, 619-63633

• Logan, J. M. (2004). Spaced and expanded retrieval effects in younger and older adults. Unpublished doctoral dissertation, Washington University, St. Louis, MO

• Karpicke & Roediger 2006

• Rohrer & Taylor 2006. ?The effects of over-learning and distributed practice on the retention of mathematics knowledge?. Applied Cognitive Psychology, 20: 1209-1224

• Seabrook et al 2005. ?Distributed and Massed Practice: From Laboratory to Classroom?

• Keppel, Geoffrey. ?A Reconsideration of the Extinction-Recovery Theory?. Journal of Verbal Learning & Verbal Behavior. 6(4) 1967, 476-486

• Rea, Cornelius P; Modigliani, Vito. ?The effect of expanded versus massed practice on the retention of multiplication facts and spelling lists?. Human Learning: Journal of Practical Research & Applications. Vol 4(1) Jan-Mar 1985, 11-1834

2.4.1 Descobriu-se que o princípio da Repetição Espaçada funciona para uma ampla gama de indivíduos e condições físicas e psicológicas:

• Camp, C. J. (1989). ?Facilitation of new learning in Alzheimer?s disease?. In G. C. Gilmore, P. J. Whitehouse, & M. L. Wykle (Eds.), Memory, aging, and dementia (pp. 212-225)

• Camp, C. J., & McKitrick, L. A. (1992). ?Memory interventions in Alzheimer?s-type dementia populations: Methodological and theoretical issues?. In R. L. West & J. D. Sinnott (Eds.), Everyday memory and aging: Current research and methodology (pp. 152-172) -

• O mesmo ocorre para habilidades não só intelectuais, mas também motoras:Culler, E. A. (1912). ?The effect of distribution of practice upon learning?. Journal of Philosophical Psychology, 9, 580-583

• Pyle, W. H. (1915). ?Concentrated versus distributed practice?

• Lashley 1915, ?The acquisition of skill in archery?

• Murphy, H. H. (1916). ?Distributions of practice periods in learning?. Journal of Educational Psychology, 7, 150-162

• Adams, J. A. (1987). ?Historical review and appraisal of research on the learning, retention, and transfer of human motor skills?

• Schmidt, R. A., & Lee, T. D. (2005). Motor control and learning: A behavioral emphasis (4th ed.). Urbana-Champaign: Human Kinetics

• Lee, T. D., & Genovese, E. D. (1988). ?Distribution of practice in motor skill acquisition: Learning and performance effects reconsidered?. Research Quarterly for Exercise and Sport, 59, 277-287

• Ammons, R. B. (1988). ?Distribution of practice in motor skill acquisition: A few questions and comments?. Research Quarterly for Exercise and Sport, 59, 288-290

• Christina, R. W., & Shea, J. B. (1988). ?The limitations of generalization based on restricted information?. Research Quarterly for Exercise and Sport, 59, 291-297

• Newell, K. M., Antoniou, A., & Carlton, L. G. (1988). ?Massed and distributed practice effects: Phenomena in search of a theory?? Research Quarterly for Exercise and Sport, 59, 308-313

• Lee, T. D., & Wishart, L. R. (2005). ?Motor learning conundrums (and possible solutions)?

• Lee, T. D., & Simon, D. A. (2004). ?Contextual interference?

• Goode, S., & Magill, R. A. (1986). ?Contextual interference effects in learning three badminton serves?. Research Quarterly for Exercise and Sport, 57, 308-314

• Boyce, B. A., & Del Rey, P. (1990). ?Designing applied research in a naturalistic setting using a contextual interference paradigm?. Journal of Human Movement Studies, 18, 189-200

• Hall et al 1994, ?Contextual interference effects with skilled baseball players?

• Carlson, R. A., & Yaure, R. G. (1990). ?Practice schedules and the use of component skills in problem solving?

• Carlson, R. A., Sullivan, M. A., & Schneider, W. (1989). ?Practice and working memory effects in building procedural skill?

• Jamieson, B. A., & Rogers, W. A. (2000). ?Age-related effects of blocked and random practice schedules on learning a new technology?

• Le Blanc, K. & Simon, D. A. (2008). ?Mixed practice enhances retention and JOL accuracy for mathematical skills?. Poster presented at the 2008 annual meeting of the Psychonomic Society, Chicago, IL

• Wymbs et al 2016, ?Motor Skills Are Strengthened through Reconsolidation?

• Dayan & Cohen 2011, ?Neuroplasticity subserving motor skill learning?

• Landin et al 1993, ?The Effects of Variable Practice on the Performance of a Basketball Skill?

• O aumento das habilidades pela repetição espaçada inclue e-games como Halo: Huang et al 2013

3. Então a Repetição Espaçada Funciona mesmo!

Funciona sim, a maioria dos estudos descobriu que tanto o espaçamento, como testes ? basicamente se você espaça um conceito que já estudou uma vez, você está se testando nele se usar flashcards ou questões ? são técnicas imensamente superiores ao estudo massivo, principalmente se o teste ocorre alguns dias depois do primeiro contato com o material.

Não só isso. Esse modo de aprendizado é ótimo para áreas intelectuais, mas também altamente factuais, verbais como vocabulários e inclusive manuais, aquelas que necessitam de habilidades como dança, jogos eletrônicos e também esportes.

Agora, se a curva do esquecimento pode ser superada através da repetição espaçada, o mecanismo para tal espaçamento não é claro.

Isso porque, a repetição espaçada é um princípio e princípios, por sua natureza, são difíceis de aplicar.

Passemos então para algumas técnicas que aplicam a repetição espaçada.

4. Técnicas que aplicam a Repetição Espaçada: Como Fazer

Como eu havia dito a Repetição Espaçada é um princípio de estudo muito poderoso que, se bem usado, pode gerar até 50% a mais de retenção.

Entretanto, a repetição espaçada é isso mesmo, um princípio, e princípios, geralmente, carecem de aplicabilidade prática; se você não for criativo para aplicá-los.

Eis então, algumas técnicas que você pode usar para aplicar a repetição espaçada e fugir da "curva do esquecimento de Ebbinghaus"

4.1 Anki flashcards

#1 O que e por que do Anki?

Muitos desconhecem o APP anki flashcards. Este aplicativo foi desenvolvido por Damien Elmes e foi pensado, originalmente, como um aplicativo para aprender idiomas (a palavra Anki remete ao vocábulo japonês que significa "memorização"). Entretanto o Anki é muito mais poderoso que isso. Segundo Alex Veermer Podemos resumi-lo em dois tópicos:

• Perguntas e Respostas: O Anki app apresenta a você questões ? seja por "complete os espaços em branco", definições ou questões normais com ponto de interrogação ? e seu trabalho é somente lembrar as respostas sem olhá-las de antemão. Como vimos nas bases da Repetição Espaçada, o esforço de relembrar as coisas de memória fortalece o cérebro e acelera seu aprendizado.

• Planejamento: Pautado na dificuldade da resposta à pergunta que foi feita, o aplicativo determina quanto tempo ela deve reaparecer para você novamente, ajustando, assim, automaticamente a repetição espaçada para o momento certo.

Assim, de uma só vez, o Anki favorece seu aprendizado pelo active recall (quando você força para lembrar os conceitos sem olhar a resposta) através de um software automático que torna o calculo da repetição espaçada muito mais fácil.

E por que os flashcards anki tornam o estudo tão produtivo?

Tendo um software, como o anki seus flashcards, onde seus cartões ficam guardados em um só sistema, você cria um segundo cérebro para você. Ou seja, um banco de dados para futuros estudos que, de quebra, calcula os intervalos ótimos de repetição.

Assim, você não se preocupa em calcular o tempo de revisão, tem um planejamento muito menos estressante e a memória muito mais fortalecida, sejam quantos forem os itens que você queira rememorar (veja mais na seção "quantos flashcards adicionar?").

#2 Por que devo usar o anki e não outro aplicativo de flashcards?

• Porque o Anki é totalmente grátis, exceto para a versão iphone.

• É um software dito 'open source', ou seja, várias pessoas contribuiram para a criação do flashcards anki e continuam sua contribuição todos os dias com as customizações. Isso nos leva ao terceiro ponto.

• É customizável, principalmente através dos addons ou extenções. Essas extenções permitem você adicionar uma variedade incrível de opções ao aplicativo original.

• Ele sincroniza entre seus aparelhos, seja celular, computador ou tablet e faz isso através de uma núvem que salva mais de 30 backups de sua coleção de flashcards.

• Seu algorítmo é otimizado, pensado por mais de 30 anos de pesquisas (aqui deixo claro que o algoritmo é otimizado, as configurações padrão do aplicativo não são otimizadas).

• Há vários atalhos de teclado se você optar utilizar o aplicativo pelo computador; e, como todo viciado em produtividade sabe, atalhos podem salvar até 5 horas em uma semana.

• Como dito acima, ele é um dos únicos aplicativos que aplica dois princípios de aprendizado acelerado: o active recall (faz você relembrar sem ver a resposta) e a repetição espaçada (calcula automaticamente).

• Por fim, a ideia de utilizar a máquina (tech) associada às características de aprendizado do ser humano faz com que ele esteja de acordo com os princípios de produtividade da Toyota: fazer mais em menos tempo deixando às máquinas o processo automático e guardando ao ser humano o aprendizado e a criatividade.

#3 Usando o Anki

Por onde devemos começar a criar nossa coleção de flashcards para o algoritmo de repetição espaçada do anki?

Comecemos pela anatomia de uma coleção.

#4 Anatomia de Uma Coleção

Toda coleção de flashcards no Ankiapp está dentro de um baralho, e eis a primeira definição importante:

Um baralho é uma coleção de notas e seus cartões correspondentes.

Agora, o que é uma nota? Isso é de extrema importância e mais de 92% das pessoas que usam Anki não sabem essa diferenciação.

Uma nota ou tipo de nota é o que define qual tipo de informação você deseja organizar em campos, templates e cartões.

As notas são as fábricas de seus cartões.

Existem vários tipos de notas no Anki. Eis algumas:

• Básico: contém somente dois campos, um chamado "frente" e outro "trás"
• Básico e cartão invertido
• Omissão de Palavras: que cria cartões como Eu ___ minha mãe na parte da frente e na parte de trás: Eu amo minha mãe.

Muito bem, se notas são as fábricas dos cartões... o que os cartões irão dispor? o que eles irão mostrar? É aí que entra a importância dos "campos".

Campos são as áreas para você preencher; sejam elas frente e trás em um cartão de flashcards

Agora você entende que não precisa ficar limitado às notas que o Anki irá trazer como padrão. Você pode criar suas próprias notas e colocar os campos que deseja.

Isso nos leva a mais uma definição importante: os templates.

Templates são como os campos irão aparecer, qual será a formatação do texto, disposição e ordem deles dentro do seu cartão... cores e muito mais.

Veja que nesta foto anterior meu cartão está disposto de um modo em que a frente tem somente um texto (escrito FRENTE) e no verso o conteúdo da frente reaparece, seguido de um outro conteúdo que eu preencherei no campo Verso.

Como eu havia falado, você pode modificar muita coisa no Anki. Olha como são os meus cartões para aprender idiomas:

As cores e o papel de parede mudam a depender da hora do dia, maneiro né?!

#5 Usando as ferramentas certas para criar o aprendizado mais rápido

Para que o Anki possa trabalhar e funcionar para você como um bom app de flashcards e repetição espaçada, você deve tomar seu papel no Toyota Way: atuar como um ser humano deve atuar no sistema de produtividade. E qual é essa atuação? Pensar.

Aqui vão um conjunto de dicas para o workflow do seu estudo.

• Pense sempre antes de adicionar seus flashcards: como eu serei testado neste conhecimento? Se você será testado em questões de verdadeiro e falso, então esses são os designs de seus cartões; caso contrário, deverá pensar em outras alternativas. Use sua criatividade e aproxime o modo que você estuda, do modo que será testado.

• Pense na mídia que você usará. Nós aprendemos muito mais com auxílio de mídias visuais. Os franceses chamam isso de Pensée visuelle, ou "pensamento visual". Use imagens, áudio, videos, gifs, links... mas pense bem como usa-los-á.

• Pense nos cartões e então pense nas notas. Comece pensando que tipo de flashcard você quer ver na hora de ser testado. É a partir daí que você criará suas notas, com seu template e seus "campos".

• Pense como você irá organizar seus baralhos no Anki flashcards. Ele terá outros baralhos dentro dele ou será somente um baralho? Você pretende usar tags ou separar seu conteúdo por baralhos?

Nunca se esqueça:

"Bad cards = bad learning! This makes a big difference. The same material can be learned many times faster, with much less stress and effort, if it is well formulated." ? Alex Veermer

Flashcard ruim = aprendizado ruim! Isso faz uma grande diferença. O mesmo material pode ser aprendido muito mais rápido, com muito menos stress e esforço se for bem formulado ? tradução livre.

#6 Um Dia na Vida de Um Cartão Flashcard

Eu falei sobre a criação de cartões, mas como que esses cartões se movimentam dentro do Anki flashcards para que o algoritmo de repetição espaçada possa calcular quando ele irá aparecer?

Basicamente, todo cartão no Anki passa pelos mesmos três estágios:

?????????????Todo flashcard novo que você adiciona entrará em uma fila para ser aprendido. Quando o cartão está nesta fila ele é considerado "novo".

A fase do "aprendendo" pode ser dividida em duas fases que decidi simplificar somente por "Aprendendo". Em inglês essas duas fases se chamam "Learning Steps" e "Young Cards". Em palavras bem simples:

• Learning Steps: um flashcard que ainda não passou para uma fase de revisão, diz-se que o flashcard "não graduou".
• Young Cards: Flashcards que passaram para a fase de revisão, mas têm um intervado menor que 21 dias.

Maduro é um flashcard que já passou pela fase de aprendizagem cujo intervalo é maior que 21 dias.

E o que significa um intervalo?

Ora, um intervalo é o cálculo que o Anki faz para que sua próxima revisão seja feita. Então, dado suas respostas para os cartões, o Anki calculará que aquele cartão deve ser visto somente em um intervalo maior de 21 dias. Aí então este cartão passa a ser considerado um cartão maduro.

Bom e se você errar um flashcard na repetição espaçada do Anki, digamos, errar um cartão maduro?

As "penalidades" podem depender daquilo que você configurar no Anki. Agora, as configurações padrões são as seguintes:

• Se você errar um cartão que já havia sido graduado (seja ele com maior de 21 dias de invervalo, maduro, portanto) ele voltará para a fila de aprendizado.
• O algoritmo do Anki em suas configurações originais irá modificar um fator intrínseco que cada cartão tem. Isso significa que o algoritmo irá modificar a frequência que aquele cartão aparece para você dado sua resposta errada.

Deixe que o algoritmo de repetição espaçada do Anki cuide desta parte, seu papel no "Toyota Way" é pensar no design de seus flashcards e como você irá criá-los para ter revisões ótimas com respostas sempre mais acuradas e rápidas.

(como esse dia que eu fiz 2519 flashcards em uma pegada.)

4.2 A técnica chamada teia do conhecimento

Vejamos outra das técnicas de estudos que aplicam a repetição espaçada: a teia do conhecimento.

Ao longo do dia, o que você pode fazer é ir estudando mais de um tópico, sem fazer revisões. Ao final do seu período de estudos, tome uma caneta, papel e relógio e faça os seguintes passos:

• Escreva no meio da folha a data do seu estudo
• Ajuste o seu cronómetro para 5 minutos
• Comece a escrever um mapa mental, ou uma teia de conhecimentos, de tudo que você viu neste dia, sem olhar nenhuma das suas anotações ou livros

Isso irá garantir que você teste-se, e também espace o tempo das revisões pois, se você estudou mais de um material no dia você estará espaçando as matérias entre elas.

Veja mais sobre esta técnica de repetição espaçada vendo este vídeo:

4.3 Use um Calendário de Revisão Retrospectivo

Um calendário retrospectivo é um método usado em cambridge para aplicar o princípio da repetição espaçada em seu planejamento de estudos.

Este calendário pensa em termos de matéria e não em função do tempo e, do mesmo modo como o anki, você estabelece notas para suas revisões através de um código de cores.

Escrevi um post inteiro sobre este método que você pode conferir aqui.

4.4 Intercalação intrínseca

O método da intercalação intrínseca é um nome bonito para você espaçar os assuntos que está estudando no mesmo dia ou na mesma seção de estudos.

A foto abaixo desume bem o método. Basicamente você deve estudar no mínimo três assuntos diferentes em um dia e, ao passar do segundo para o terceiro, deve fazer uma revisão do primeiro.

Esta intercalação continua a ser feita quando você passa do terceiro para o quarto assunto, fazendo uma revisão do segundo tópico estudado.

4.5 Questões

Como a revisão de literatura demonstrou, testar-se é uma das melhores práticas para que possamos aprender mais, fugir da curva do esquecimento, e aplicar a repetição espaçada.

Você pode, e deve, usar as questões desse modo. Sejam elas questões de concurso público, vestibular, ou questões dos livros e manuais que você tem. Faça isso usando técnicas que espacem suas matérias, como o calendário ou a revisão intrínseca.

Eu costumo usar o Anki flashcards de um modo diferente dos outros estudantes de concursos. Para evitar a sobrecarga de cartões, eu costumo usá-los geralmente para questões que eu errei.

Você pode ver como isso funciona vendo estes dois vídeos abaixo:

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5. Minha Repetição Espaçada deve ser Longa ou Curta?

Bom, mas há uma pergunta que ainda não respondemos: qual é o intervalo ótimo de repetições? Curto ou Longo? Você deve deixar esquecer mais e espaçar mais as matérias, ou deve abusar de técnicas como a repetição intrinseca, que faz intercalação até mesmo no espaço de horas?

A literatura é unânime sobre isso: quanto mais você deixa-se esquecer de um assunto, mais difícil fica recordá-lo e, quanto mais difícil é, mais você aprende. Estudos mostraram que quanto maior o espaçamento, melhor (Bahrick et. al 1993; Basher 2007).

Como Dunlosky (2013) demonstrou, estudos empíricos provam esta hipótese.

Três grupos foram divididos para estudar palavras em lingua espanhola e suas respectivas traduções ao longo de seis seções de estudos.

• O primeiro grupo estudou todas as palavras no mesmo dia
• O segundo grupo, estudou-as intercalando com 1 dia de intervalo entre cada seção
• O terceiro grupo intercalou cada seção por um intervalo de 30 dias.

Ao final do prazo de 30 dias, datando da última seção, os resultados foram o seguinte:

• O primeiro grupo relembrou 63% das palavras
• O segundo, 72%
• O terceiro, 94,3%

Portanto, seções maiores são beneficiais ao estudo no longo prazo. Caso você esteja usando o Anki flashcards, uma mudança de configurações deve bastar.

6. Repetição Espaçada no aprendizado de idiomas

Muitos querem usar o sistema de repetição espaçada para aprender inglês e acabam usando flashcards inglês, francês ou outros idiomas com a esperança de que isso basta.

Mas, será mesmo?

Como a proposta deste artigo é fazer um grande apanhado sobre a repetição espaçada aplicada nos estudos, seja de idiomas ou medicina, direito etc... devemos saber quais são as características suis generis dos idiomas e como a repetição espaçada se encaixa nisso.

6.1 A Repetição Espaçada é Nível "Alto"; Anki e outros Flashcards São Práticas de Nível "Baixo"

Muitos estudantes e "gurus" do aprendizado de idiomas por aí falham em algo muitíssimo simples, errou feio, errou rude.: não conhecem as chamadas práticas de alto e baixo nível.

O que isso quer dizer? Uma prática de alto nível significa que você tem um conhecimento em mãos e vai praticá-lo no mesmo nível que deseja usar este conhecimento. Por exemplo:

• Aprendizado de idiomas ? conversa com nativos ou exposição massiva audiovisual para nativos.
• Engenharia ? Projeto prático de construção
• Programação ? Escrever um software do zero

E por aí vai. Prática de alto nível signiofica que você vai praticar "ao nível de uso". Isso quer dizer que você está praticando de uma maneira altamente efetiva para o propósito que deseja.

O Princípio da Repetição Espaçada é de Alto Nível porque você pode usar essas práticas de alto nível de uma maneira espaçada.

Agora não confunda princípios, como a repetição espaçada, e os mecanismos, ou técnicas que os aplicam, por exemplo: Anki ou outros Flashcards.

Portanto a prática de nível baixo em idiomas significa que você estará usando flashcards para aprender vocabulário.

Isso porque, a não ser que você queira entrar em uma competição de flashcards, seu propósito é outro. Estou assumindo que, como a maioria dos estudantes de inglês ou outra lingua estrangeira, você queira aprender idiomas para se comunicar ou consumir conteúdo no idioma que quer aprender.

Feito essa divisão entre práticas de nível alto e nível baixo, vamos ver como podemos sim usar flashcards e outras técnicas de repetição espaçada.

6.2 Como Usar a Repetição Espaçada para Aprender Inglês ou Qualquer Outro Idioma

Eu disse que a prática de nível baixo como Anki flashcards não é otimizada para aprender idiomas, mas isso é só em parte verdade.

Isso porque se você usar somente flashcards, isso vai adiantar pouco. Você pode aprender muito vocabulário assim, mas os idiomas são complexos e vão muito além de "conhecer palavras". Você precisa desenvolver uma série de micro-habilidades.

Você pode saber mais sobre essas micro-habilidades vendo este vídeo:

Então não devemos fazer flashcards, usar o Anki ou outros métodos de repetição espaçada?

Nada disso! Devemos usar sim! Vamos ver o porquê disso...

A primeira coisa é: cada vez que você aprende uma nova palavra você cria uma nova "entrada" em seu dicionário mental.

Isso significa que aprendendo uma palavra em um contexto usando flashcards você passa a reconhecê-la mais e mais em outros contextos diferentes. A isso chama-se efeito de frequência; basicamente você nota mais as coisas que você começa deliberadamente a prestar atenção.

Por exemplo, você alguma vez comprou uma roupa ou acessório novo e, de repente você notou que todos estavam "imitando você"? É exatamente isso que ocorre com as palavras. Elas estavam aí, você só não estava prestando atenção nelas. Os flashcards ajudam você a "notar" mais. Por isso você deve usá-los.

O segundo benefício de usar flashcards para aprender vocabulário é que uma vez aprendido um vocabulário, os outros significados e nuances daquela mesma palavra, aplicadas a contextos diferentes, ficarão muito mais fáceis de aprender.

É isso que Aristóteles chama a atenção quando ele pede para seus alunos anteciparem o que aprenderão na aula do dia seguinte. Ele busca criar alguma massa de constraste, algo que você possa comparar. É isso que eu chamo de catedral de sentidos: você vai criando uma percepção cada vez mais acurada das palavras que já sabe e daquelas que está aprendendo pelo simples fato de que reconhece nuances mais acuradas e sensíveis.

A terceira característica é ligado com a primeira e é dela que subimos ao primeiro nível: quanto mais palavras você reconhecer, mais fácil será você compreender materiais audiovisuais de nativos ou encontrar o vocabulário necessário para se comunicar com nativos. E essas são duas práticas de nível alto, como falamos na seção anterior.

É assim que eu recomendo altamente o uso de flashcards e da repetição espaçada para aprender idiomas, mas ele deve estar contido dentro de uma estratégia maior.

O Anki flashcards é, certamente, uma ferramenta ótima, mas ele não pode ser seu único arsenal para se aproximar de um idioma pois aprender é uma coisa, agora adquirir um idioma é outra coisa completamente diferente.

Eu falo mais sobre as diferenças entre aprender e adquirir um idioma neste post.

Para resumir os pontos sobre aprendizado de idiomas e repetição espaçada, temos:

• Você não pode confundir práticas de alto com baixo nível, sendo que práticas de alto nível são aquelas que você se testa ao nível de uso.

• Flashcards e Repetição espaçada ajudam a aprender novas palavras, mas não a adquirir um idioma e saber como usá-las e compreendê-las em contextos diferentes; o conhecimento gerado por um flashcard é de baixo nível, um conhecimento superficial, mas muito importante!

• Entretanto, usar somente a imersão em material nativo ou conversar com nativos sem ter um amplo vocabulário, não é otimizar o processo orgânico no qual aprendemos idiomas. Sem usar a repetição espaçada e os flashcards você não acelera o processo.

• Ao unir flashcards com práticas de alto nível você acelera seu processo na aquisição de idiomas ao criar uma massa perceptiva do idioma que está querendo aprender.

7. Pontos Negativos da Repetição Espaçada

A Repetição Espaçada não é um mar de rosas, mas felizmente todos os pontos negativos dela são muito fáceis de contornar. Vamos a eles.

7.1 Pontos Negativos da repetição espaçada para aprender idiomas

Para completar o exposto na seção anterior sobre idiomas, há alguns pontos negativos de abordar idiomas com uma estratégia puramente pautada em flashcards:

• Você acaba tendo um conhecimento superficial e básico das palavras, não vendo as mesmas palavras em contextos diferentes.
• Flashcard apps como Anki e outras estratégias assim geram conhecimento, e não habilidades: você conhece a palavra, mas não é capaz de usá-la com maestria.
• O conhecimento é dependente do contexto, isso quer dizer que, vez ou outra, você sabe o significado daquele cartão... mas quando encontra a palavra em outro contexto como em um livro, jornal ou filme, não é capaz de recordar o que ela significa.

E como você pode superar todos esses erros? É fácil, basta você ter uma estratégia que una táticas de nível baixo com táticas de nível alto. Com nível baixo não quero dizer algo "desprezível" mas somente abaixo do "nível de uso". Como vimos anteriormente, o uso de flashcards, anki etc.. é fundamental para fugirmos da curva do esquecimento.

O meu método Fluência RPG é sobre isso, unir esses dois níveis, foi um método que eu desenvolvi ao longo de 9 anos estudando idiomas e como aprendê-los de modo mais eficiente.

Eu testei tudo, até mesmo abordagens puramente gramaticais, puramente pautadas em flashcards e várias outras que só gastaram meu tempo e dinheiro. Mas consegui chegar a um resultado muito satisfatório com um método único.

Aqui você pode encontrar A Lista de Espera do Método Fluência RPG

7.2 Pontos Negativos da Repetição Espaçada em Questões

Com relação a questões, sua prática com a repetição espaçada pode induzir você ao erro. Explico: testar-se com questões pode criar em você uma percepção de que certa alternativa é correta, pois você "provavelmente" já viu ela antes dado o efeito da repetição espaçada. O problema é que, as vezes aquela questão pode ser a questão errada, a alternativa errada.

Mas como um estudo de 2008 demonstrou (Reodiger, 2008) basta você simplesmente prestar atenção na hora da correção das questões.

Portanto, para contornar esse erro, é necessário tanto corrigir questões certas e erradas justamente pelo poder que a repetição espaçada tem no longo prazo.

"Feedback enhances the positive effects and reduces the negative effects of multiple choice testing" ? Reodiger 2008

8. FAQ: Perguntas Frequêntes sobre Flashcards e Repetição Espaçada

8.1 Quantos Flashcards adicionar?

Se você quer usar ao máximo as potencialidades da repetição espaçada com flashcards essa será uma pergunta recorrente para você.

Infelizmente não há resposta certa para isso pois tudo vai depender daquilo que você deseja. Mas sempre tenha em mente uma coisa: adicione somente informações que você realmente quer lembrar. Deixe trivialidades de lado.

Dito isso, vamos ver uma simulação de um baralho meu no Anki flashcards. Este é um baralho com as partes gramaticais mais cabeludas do inglês.

Eu suspendi todas as partes mais fáceis e filtrei somente o realmente mais difícil. O total de cartas no baralho, atualmente, é de 2397.

Pode parecer pouco, mas revisar esses erros cabeludos é realmente difícil e toma uma enorme energia. Portanto eu configurei meu Anki para me mostrar somente 7 cartas novas por dia.

Isso quer dizer que, no dia de hoje, eu terei que fazer estes 2397 em 343 dias.

O gráfico abaixo mostra a variação de repetições que eu terei que fazer nos dias que virão:

Agora, lembra que eu disse que seriam 343 dias para que eu visse todos os cartões?

O que ocorre quando eu aumento minha visão gráfica para, digamos, 400 dias datando de hoje? O que ocorre com meu número de revisões?

Como falamos em seções anteriores, as repetições são espaçadas em PG e, portanto, o número de revisões cai significativamente:

Isso é muito bom pois eu sei que todos os dias eu farei somente 7 cartões deste baralho, mas no futuro farei muito menos e terei aprendido e passado por vários dos erros mais cabeludos em inglês.

Veja, por exemplo, o dia 29/10/2021 quantas repetições deste baralho inteiro eu terei, apenas 15:

Não sei pra você, mas para mim é uma boa jogada!

Então, quantos cartões você deve adicionar? Ora, quantos achar que deve, mas preste atenção em suas revisões no futuro.

8.2 O que adicionar em meus flashcards?

Basicamente flashcards funcionam muito para conhecimentos mais factuais do que conceituais; isso significa que você terá uma maior retenção se quiser lembrar de fatos, datas, vocabulários fórmulas químicas etc., do que se tentar lembrar conceitos filosóficos.

Agora, se você souber criar bem o design de seus cartões você pode sim salvar conceitos mais abstratos, sua retenção será levemente menor, mas nada que prejudique seu aprendizado.

As informações mais comuns salvas em cartões de memória, que eu vi ao longo dos anos estudando o assunto, foram:

• vocabulário
• fórmulas
• datas
• conhecimentos factuais
• diários
• citações
• aniversários
• poesia

8.3 Quando devo revisar meus flashcards?

Esta pergunta está intrinsecamente relacionada ao "qual deve ser o tempo de revisão".

Como disse logo acima, um tempo ótimo de revisão são períodos mais longos, agora, se você tem uma massiva quantidade de flashcards para revisar provavelmente terá revisões todos os dias para fazer. Então, qual o melhor horário para se revisar?

O instituto americano de saúde mostra que a memória de longo prazo é fortalecida durante o sono; portanto, o material estudado logo antes de dormir é fortalecido. Vários outros cientistas como Steve Brown e Barbara Oakley mostram que o sono é fundamental para o fortalecimento dos padrões neuronais de ativação, ou seja, para fortalecimento do seu conhecimento.

Assim, revisar antes de dormir seria melhor pois encoraja a consolidação da memória durante o sono.

Dito isso preciso fazer uma ressalva. Caso você tenha muitas revisões, e elas tomam grande parte de sua energia, é complicado deixar para as últimas horas do dia para fazer suas revisões.

Neste caso eu recomendo fortemente que você escolha o horário de pico de sua performance. Você pode saber mais como fazer isso passo a pasos lendo este artigo que eu escrevi sobre produtividade e como manter o foco nos estudos.

Em uma senença

A repetição espaçada é um princípio que mostra que o planejamento espaçado é uma ótima estratégia para que possamos ter uma maior retenção de qualquer tópico estudado e fugirmos da curva do esquecimento por meio de técnicas como flashcards que aplicam, por sua vez, o sistema de repetição espaçada e criam intervalos ótimos de estudo enquanto testamos a nós mesmos.