Nesse post eu vou mostrar pra você algo realmente muito poderoso que pode trazer imensos resultados intelectuais para você, seja no aprendizado de idiomas, estudos ou projetos de trabalho.
Não sei se você está familiarizado com o termo "tags" mas muitas pessoas não estão. Tags, ao final de tudo, são "etiquetas".
Quando você pensa em tags na sua vida do dia a dia, você deve lembrar daquelas etiquetas de mala que usamos em aeroportos e portos.
Mas as tags vão muito além disso. Em sua vida intelectual as tags podem salvar muito seu tempo e gerar muito resultado pra você se você realmente souber usá-las, principalmente tags digitais.
Pense nas tags digitais como mapas da nossa realidade virtual. Por exemplo você no Instagram, pode ficar procurando vídeos legais de gatinhos se seguir a tag (i.e. hashTAG) #gatinhosfofinhos. Esse é seu mapa, você navega por essa realidade até enjoar dela.
O Facebook, Google, Toyota, YouTube... todos esses grandões usam sistemas de TAGS para organização interna, e você pode usar também se souber como fazer.
Ter um bom sistema de tags permite você encontrar a informação certa na hora certa. Permite você encontrar aquele vocabulário quando precisa dele; encontrar aquele resumo quando precisa revisá-lo. Permite buscar aquela informação que uma vez você viu, esqueceu, e agora precisa.
Peter Morville em seu livro "Ambient Findability" (Encontrabilidade do ambiente) mostra que ser encontrável significa não só ser fácil de achar, mas que possa ser usado no momento oportuno.
Se você usa um bom sistema de tags pode criar caminhos por onde o seu futuro você possa caminhar com mais facilidade, sem ficar sobrecarregado com um sistema de organização rígido ou irracional.
As tags podem ser usadas para diversas coisas, mas estarei focando em apensa um único uso das tags: a organização da sua inteligência pessoal.
O que é inteligência pessoal? Ora, é tudo que você aprende ao longo dos seus anos nesta terra.
Há um grande historiador francês, Henri Lefebvre que disse uma vez: "em paralelo com a história das ideias, deveríamos ter uma história do esquecimento". Se você tem um bom sistema para organizar e gerir sua inteligência pessoal, você para de esquecer muito daquilo que aprendeu, e passa a usar a informação que acumulou ao longo do tempo, mas usá-la justamente quando o momento é oportuno.
As tags, portanto, servem como um modo de organização espacial do material que você usa. O meu sistema de produtividade DALI não seria nada sem um bom modo de usar as tags, o mesmo para meu Anki, ou você acha que gerenciar vocabulário é moleza?
Pense um momento quantas informações já entraram em contato com você e você deixou uma riqueza de detalhes lhe escorrer pelos dedos.
Garanto que você já teve que ver um vídeo meu para lembrar "de como fazia aquilo mesmo...?"
É justamente por isso que você precisa usar as tags como um sistema de mapeamento de informações. Tags servem como sistemas para identificar, categorizar e inter-relacionar ideias.
Antes de mostrar os 4 modos para usar as tags você tem que entender uma coisa: seus sistema de tags pode ser hierárquico ou em uma rede.
Uma hierarquia de tags são sistemas onde há uma correta orientação das tags visando um nó central.
Um sistema hierárquico é, por exemplo um sistema que encontramos em uma empresa; no sumário de um livro, em um exército. Cada subparte serve para dar apoio à parte superior e assim sucessivamente. As tags hierárquicas são mais rígidas que as tags usadas em redes.
Uma rede de tags como o nome já diz, não é organizada por uma orientação voltada ao topo, mas cada "nó" de uma rede de tags funciona de modo autônomo e pode se relacionar com os outros nós. Geralmente as redes (networks) são ótimas para trabalhar em situações de constante mudança e alta imprevisibilidade.
As redes e hierarquias não são excludentes entre elas. Eu, por exemplo, uso tanto um sistema hierárquico como um sistema de rede para minhas tags no Notion ou até mesmo no Anki.
Por exemplo dentro do meu Anki eu tenho algumas tags de rede que uso para estudar algum vocabulário específico. Essas tags são tags como "partículas"; "preposições"; "perguntas".
Vez ou outra eu gosto de criar um deck filtrado só com essas tags para dar uma refinada em como fazer "perguntas" em mandarim, por exemplo. Veja que não há hierarquia aí; todas essas tags estão em uma grande rede chamada "Vocabulário".
Agora no meu Notion eu tenho um sistema hierárquico de tags onde cada conteúdo que eu crio, seja para o Blog, Canal ou para a Comunidade, passa pelo ciclo: Ideia, desenvolvimento (leitura e recolhimento de material) e refinamento (relações com outras ideias e fontes).
Por que eu gosto de analogias eu meio que "inventei" um sistema de tags mais bonitinho onde cada ideia seria uma semente, o desenvolvimento uma árvore e um refinamento uma árvore maior, como um carvalho ou a árvore do meu paraná: uma Araucária.
Há basicamente 4 modos para usar um sistema de tags e nenhum deles é o modo convencional de usar tags, aquele modo que você vai etiquetando tudo com categorias abstratas do conhecimento tal como "filosofia"; "direito" "biologia"; "inglês"; "produtividade"...
Veja que essa categorização abstrata não ajuda você naquilo que Peter Morville chamou de "encontrabilidade do ambiente". Tudo no mundo está em alguma categoria e uma hora, se você quiser categorizar tudo usando esse sistema abstrato, seu próprio sistema de tags será uma bagunça total.
Acredite em mim, hoje eu tenho uma lista de leitura com mais de 2.000 livros; eu até tentei usar essas categorias abstratas, mas é praticamente impossível, pelo menos se esse for o seus sistema de organização principal.
Você pode continuar usar esse sistema de etiquetas abstratas onde tudo serve pra tudo, mas desde que ele não seja seu sistema de tags principal. Aqui vou mostrar pra você 4 sistemas principais de categorização.
O melhor uso das tags, diz Tiago Forte, e eu concordo plenamente, é o sistema de tags voltado para seu objetivo, e não aquele voltado para o começo do seu projeto.
Então quando você está vendo um vídeo, lendo um artigo ou até mesmo comprando um livro, você deve pensar: "isso é realmente fundamental para minhas atuais necessidades e projetos"?
Eu tenho, pelo menos, três grandes projetos hoje: aprender mais sobre produtividade; melhorar mais ainda meus conhecimentos sobre aprendizado de idiomas e refinar o sistema que ensino na Comunidade Fluência RPG.
Para cada artigo, vídeo, livro, referência, podcast... qualquer informação que eu decido guardar para consumir depois, algo que eu já falei neste post, eu salvo com uma tag direcionada a um desses projetos:
O próprio sistema Toyota de produtividade usa um sistema desses. Dentro da Toyota cada parte de um carro recebe um cartão que demonstra para qual departamento aquela peça vai (finalidade) e de onde ela veio.
Ter seus projetos em mente e decidir conteúdo voltado para eles é uma parte crucial no gerenciamento da sua inteligência pessoal e de seus objetivos.
Se você tem muito conteúdo para consumir mas simplesmente não sabe o que fazer com eles, então para quê consumí-los? A TAG voltada para a finalidade é ao mesmo tempo um sistema de organização e um filtro da informação que você consome.
É óbvio que nem toda informação que você deve consumir deve ser só focada em seus objetivos. As vezes simplesmente gostamos de ler sobre tópicos aleatórios sobre o rococó do século XVIII francês. (alguém...? Ok, devo ser só eu).
Nessa arte de coletar materiais que você acha serem importantes, há uma linha tênue entre a simples acumulação e a acumulação estratégica.
Veja meu exemplo do rococó. Eu sempre gostei de ler sobre essas coisas "eruditas". Fico impressionado como esses connaisseurs escrevem e fazem você ver coisas incríveis que estavam na sua cara e você não conseguia enxergar.
Vê o cérebro?
Então eu fui colhendo esse material sobre arte e literatura que eu tanto gosto. Chegou um dia, há uns 4 anos atrás que eu pensei: bom, um ótimo modo para chegar ao "avançado" na leitura de um idioma é ler literatura.
O problema da literatura é que ela é difícil. Mas seria mais fácil se houvesse um guia de estilos de época, ou seja, um livro que falasse algo assim, por exemplo: Comedy of Errors de Shakespeare foi escrito em 1593 e se encaixa nesse estilo de época "Barroco"... e então me explicasse mais sobre o "Barroco", sobre "Shakespeare" e algo sobre o livro "Comedy of Errors".
Você já viu onde eu estou querendo chegar. Há 4 anos eu comecei a escrever um livrinho exatamente assim para os membros da comunidade. Fui capaz de fazer isso pois já tinha material suficiente para isso.
Eu segui a estratégia de "cozinhar em fogo baixo". Eu ia salvando os recursos, fotos, recomendações, anos, datas... sem tag alguma. Depois de um tempo eu pensei: há uma categorização aqui e eu posso ordenar tudo isso para escrever um livrinho, uma apostila pequena para os membros da comunidade que quiserem ler literatura em outro idioma.
O ponto positivo aqui é que está tudo bem não usar tags por um tempo, desde que essa não seja a sua estrutura hierárquica de organização.
Esse modo de usar as tags busca mostrar onde aquele conhecimento está em seu ciclo de aprendizado.
O exemplo anterior sobre as "sementes"; "árvores" e "araucárias" é uma ilustração desse modo de usar as tags.
Esse modo de tags não busca categorizar por projetos ou alguma outra estrutura que você cria depois, mas sim onde aquela informação está em um ciclo de aprendizado.
Abaixo, estou usando a mesma foto que usei para falar sobre a tag visando o projeto. Veja que uma informação passa por pelo menos 3 ciclos no meu aprendizado: Leitura, marcação e relação. Cada uma dessas etapas ela recebe uma TAG. A tag da foto mostra o que eu estou "lendo" ou seja, o primeiro nível.
Você percebe pela foto abaixo que cada informação visa um projeto (usa o sistema #1) mas também sei onde ela está no meu ciclo de aprendizado (usa o sistema #3).
Só a título de curiosidade, esse terceiro modo de marcar tags por "nível de leitura" é o sistema de fichamento progressivo que uso na leitura de alguns artigos. Você pode saber mais sobre ele clicando aqui.
Se você fez o meu curso de Anki sabe que no Anki também há esse ciclo de aprendizado em flashcards. Embora você não precise usar tags para isso, o próprio Anki divide seus cartões por ciclo de aprendizado:
Se um dia, por exemplo, você tiver muitas revisões para fazer e quiser reagendar algumas revisões para outro dia, pode simplesmente mandar seus cartões "maduros" para estudar outro dia, basta saber como encontrá-los no painel e saber como pular um dia.
Por fim o último modo de usar as tags é usá-las em uma taxonomia pessoal. A taxonomia vem lá da biologia onde eram categorizados as espécies, lembra?
Quando você se especializa em alguma coisa começa a encontrar padrões ou a pensar que algumas coisas ficam melhores categorizadas de outra maneira.
Essa é uma categorização pessoal que faz muito sentido pra você.
Por exemplo para mim as categorias aqui do blog são muito úteis: idiomas, aprendizado e produtividade; talvez pra você, em seu trabalho, estudos, faculdade, projetos... as categorias sejam diversas e fazem mais sentido se "personalizadas".
Outro modo de classificação pessoal é o que eu chamo de "anotação por perfil", algo que eu falo no curso grátis Anotações Pro.
Um outro exemplo é aquilo que eu chamo de "pentágono da fluência" para os membros da comunidade Fluência RPG. Esse "pentágono" é um modo inovador de ver idiomas pelas lentes da criação de habilidades, mas também é o modo organizador da nossa Biblioteca de Recursos: cada um dos milhares de recursos que os membros tem acesso está com uma TAG que remete justamente ao pentágono. Se você é membro sabe o que estou falando.
TAGS são sistemas de organização que possibilitam a criação de caminhos por onde o seu futuro você possa facilmente encontrar informações que serão usadas na hora conveniente e do melhor modo possível por meio da categorização da informação voltada para a finalidade; depois de encontrar padrões; em seu ciclo de aprendizado ou por classificação pessoal.