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Não seria ótimo saber exatamente qual material mais eficiente usar para se divertir rumo à fluência? Nesse post eu vou dar várias dicas poliglotas; um verdadeiro roteiro perfeito pra você usar histórias para aprender qualquer idioma, copiar os Gregos clássicos e andar a passos largos rumo à fluência.



Será que aprender idiomas com histórias realmente funciona?



#1 Histórias têm um amplo reino semântico



Quando você começa a aprender idiomas com histórias, você acaba aprendendo muito vocabulário de vários reinos semânticos diferentes.


Conhecer o que é reino semântico é uma das melhores dicas poliglotas que eu posso dar pra você.


Um reino semântico é um conjunto de palavras que fala sobre determinado assunto. Por exemplo, as notícias têm um reino semântico muito específico, o vocabulário de noticiário é bem específico.


Imagine que você é um engenheiro. Você conhece muitas palavras do seu reino semântico: a engenharia. Outro exemplo são jogos de RPG, filmes de fantasia; todos têm seu reino semântico.



Entretanto, aprender idiomas com histórias é outra coisa.


As histórias contam com vários reinos semânticos, e uma ampla variedade de vocabulário; bem como as histórias contam com um certo vocabulário descritivo, que você não encontra em muitos lugares.



#2 Aprender idiomas com histórias é indicado para todos os níveis, até iniciante



Dentre essas dicas de poliglotas para aprender idiomas com histórias, uma muito importante é saber que em histórias há o que se chama "previsibilidade da narrativa".


"O que é isso?" você deve estar pensando.


Ora, lembra quando assistíamos Tom e Jerry, ou Coyote e Papaleguas? Não havia fala nesses desenhos, mas nós, crianças, acompanhávamos a narrativa, acompanhávamos a história.



Toda história conta com uma certa previsibilidade narrativa.


Então mesmo que você é um completo iniciante, e decida tirar todas as legendas de uma série, por exemplo, ainda poderá acompanhar a história somente pelo movimento e expressão dos personagens.


Eu, por exemplo, assisti recentemente a série ????·?? (Amor não correspondido), em Mandarim, sem legenda alguma ? e meu nível de Mandarim ainda é muito iniciante, ao tempo que escrevo esse post.


Entretanto, eu consegui acompanhar cerca de 70% da narrativa! Claro, vez ou outra, algum detalhe me escapava, mas eu estava tudo bem com isso, eu desenvolvi essa tolerância à ambiguidade.


Claro, isso só foi possível porque a série contava uma história simples, e eu acompanhei o desenvolvimento da trama pela "previsibilidade da narrativa".



#3 Histórias entretém você



Quem não gosta de ouvir histórias? As histórias tem um incrível poder de manter você ligado e atento.


Há algum tempo atrás eu fiz um post no meu Instagram (@eliezerpiano) sobre aprender idiomas com histórias.


Lá eu disse que você deveria transformar o que você gosta em material de aprendizado de idiomas.


Foi justamente nessa característica das histórias que eu estava pensando: no entretenimento que elas produzem pra você.



#4 Aprende gramática de um modo natural



Se você não gosta de estudar gramática, aprender idiomas lendo histórias é um ótimo modo de contornar essa situação.


Isso porque a gramática é um fenômeno ex post, ou seja, a primeira gramática surgiu depois das pessoas começarem a se comunicar.


Na verdade, ela foi uma invenção grega, como conta Marrou.


"La grammaire est une des dernières conquêtes de la science grecque : c'est le fruit d'une longue série d'efforts, commencés, ... autour de Protagoras, continués dans les écoles de Platon et de ses successeurs: son élaboration définitive est un des titres de gloire de la culture hellénistique." ? Histoire de l'Éducation dans l'Antiquité. Henri-Irénée Marrou.


E o que isso tem a ver com você?


Ora, você entende a frase "a menina é bonita" mas pode não saber que "bonita" é um predicativo do sujeito, não é verdade?


Então! Você sabe gramática pois aprendeu de um modo natural. O mesmo ocorre quando você aprende idiomas com histórias.



#5 Histórias criam ambientes de imersão linguística e cultural



Cada história escrita é escrita de um certo lugar e em um certo tempo.


Isso significa que, por mais "neutra" que ela possa ser, sempre haverá algo cultural e específico da região, cultura e vivência donde ela foi escrita.


Não é possível você ler um Miguel de Unamuno, por exemplo, e não sentir o profundo senso de patriotismo magoado do autor, aquele sangre caliente da escrita de Unamuno é bem espanhol!


Nada melhor pra você aprender sobre a cultura de um país que ler suas histórias.


No meu primeiro ano de Relações Internacionais, um professor disse pra mim: "você quer aprender mais sobre a cultura árabe? Não leia livros de história, leia as histórias deles". Faz todo sentido!


Como falaremos muito sobre os gregos neste post, um dos maiores historiadores da grécia clássica diz que Homero, criador das histórias mais importantes do mundo grego, é completamente "nativo" ao seu mundo; isso quer dizer que Homero colocou o mundo grego inteiro dentro de suas histórias.


The mind of Homer is completely native to a sublime and powerful world exempt from all want and need.? ? History of Greek Culture. Jacob Burckhardt



#6 Você ainda não precisa falar nada ainda



Procure aí na internet as dicas de poliglotas para aprender inglês, muitos vão dar dicas de como encontrar e falar com nativos.


Mas e se você não quer fazer isso? E se você está em um estágio inicial?


Sei que muitos pensam de modos diferentes sobre quando você deve começar a se comunicar com as pessoas em outro idioma.


Entretanto eu penso que devemos instalar um bom "modelo mental" de como soa esse idioma primeiro, antes de começarmos a falar.


As histórias são ótimas para isso. Nelas podemos pegar a melodia do idioma, seja na escrita ou até mesmo na escuta, como veremos mais a frente.



#7 Você aproveita muito a sua jornada



Sempre falo que um dos maiores erros dos cursinhos de inglês e outros idiomas é ficar pensando sempre no objetivo final e esquecer a jornada de aprendizado.


Como já dizia Stephen Krashen sobre o "affective filter hypothesis": nós aprendemos mais aquilo que nós gostamos.


Eu odiava minha professora de física; até hoje a física é um terror para mim!


Você pode saber mais sobre a importância da jornada no aprendizado de idiomas vendo este vídeo:




Também, pode ver mais sobre o "affective filter hypothesis" assistindo a este outro vídeo:





#8 Ética



Ah, como não falar dessa palavrinha mágica que significa "um constante esforço para se viver melhor"


Se você acha que aprender idiomas não tem nada a ver com ética, pense novamente.


Pesquisdores descobriram, por meio de ressonância magnética, que partes de nosso cérebro são ativadas quando nós estamos consumindo uma história. Nosso cérebro mostra que podemos realmente viver uma história. Os padrões de ativação da imaginação e das sensações reais são as mesmas!


Se não fosse assim, por que você choraria em um filme? Ou por que se sentiria órfão quando terminou de ler aquela série de livros, ou terminou de maratonar aquela série na Netflix?


As histórias fazem com que nós nos engajemos totalmente em uma outra realidade, abrindo-se a um outro mundo.


Desse modo, você pode aprender muito com qualquer cultura e experiência.


Imagine ler Dostoevsky no original em Russo. Eu não sei você, mas eu nunca fui preso em um campo de trabalhos forçados; muito menos passei pelas experiências que ele passou.


Entretanto, podemos sentir o que ele sentiu, imaginar o que ele imaginou, e ter a experiência de algo que nos é muito distante!


Não somente essas experiências de alegria e tristeza, mas podemos aprender valores éticos por meio de histórias.


Os gregos, por exemplo, são famosos por ensinar valores éticos às crianças por meio de histórias:


"The Greeks were perhaps the only people that instilled in their children an objective and very liberal ethical view of the world, without any theological or political bias." ? Burckhardt


Como? você deve pensar... como ensinar valores tão difíceis para crianças?


Ora, através de histórias; e, neste sentido, Homero foi o grande educador da Grécia, e fez tudo por meio de histórias.


Homère...texte de base dans l'éducation...parce que son contenu en faisait un manuel éthique, un traité de l'idéal... Homère a été l'éducateur de la Grèce" - Marrou p.40?44


Nas obras de Homero como Ilíada e Odisseia, as crianças encontravam um manual de cortesia de viver, a serenidade e a força da sabedoria, como se portar perante situações difíceis, e como falar com os outros de maior ou menor "escala social".



#9 Gregos e dicas poliglotas para aprender idiomas com histórias



Mary Catherine Bateson, uma grande antropóloga cultural, diz o seguinte "a espécie humana pensa por meio de metáforas e aprende por meio de histórias"


"The human species thinks in metaphors and learns through stories." ? Mary Catherine Bateson


Como você já deve ter entendido, os gregos testaram o ensinamento por meio de histórias.


Essa é uma das razões de Homero tão amplamente conhecido.


Não sei se você já lei Odisseia ou Ilíada, mas se você já teve essa experiência, pode ser que chegou ao final do livro e pediu: tá, mas e aí? Por que todos louvam esse "Homero"? Não vi nada de mais!


A não ser que você tenha lido em grego original e saiba como escandir versos gregos, a melodia do poema não é o que nos interessa, mas o conteúdo da obra.


Não há nada tão fabuloso, verdade.


Entretanto, como Burckhardt demonstra, o poder e a força de Homero se manifestou quando ele começou a ser fonte da educação de toda a juventude grega. Os gregos aprenderam a ler e a escrever lendo as histórias de Homero, e os Romanos aprenderam Grego lendo as histórias de Homero!


"Homer?s power became incalculable when he manifestly became the chief source of education for all from youth" ? Burckhardt



Como copiar os gregos e aprender idiomas lendo histórias



"CHEGA! Você me convenceu Eliezer"


Ahh, era isso que eu queria!


Agora que você entendeu que histórias são ótimas fontes de aprendizado, podemos mergulhar nos gregos e retirar dois princípios para aprendermos idiomas como Aristóteles!

  1. Princípio 1) As histórias não podem ser fáceis, elas devem ter uma dificuldade desejada
  2. Princípio 2) A dificuldade das histórias deve ser gradual



Princípio 1) A dificuldade desejada



Eu citei anteriormente, em francês, um grande historiador da Grécia chamado Henri Irénée Marrou. Marrou dizia que os gregos aprendiam a ler e a escrever lendo Homero, mas ele não disse que era fácil.


Marrou conta que as histórias de Homero eram difíceis para as crianças, mas pelo fato de elas serem boas histórias e muito envolventes, as crianças persistiam e acabavam aprendendo a ler e escrever.


Isso foi teorizado, anos depois, por dois pesquisadores Yerkes e Dodson, e dessa pesquisa surgiu aquilo que se chama de Yerkes Dodson Law ou Curva em U invertido, representada abaixo:





A curva em U invertido mostra que, se uma atividade que você faz é muito fácil (esquerda da abscissa), você acha aquilo chato e acaba se desmotivando.


Entretanto, se for muito difícil (direita na abscissa), você não consegue fazer a atividade, e acaba se desmotivando e desistindo.


O melhor ponto é onde existe uma dificuldade desejada: que não seja nem tão fácil mas também nem tão difícil.


Não somente isso, mas pesquisadores de Stanford mostraram que o nosso cérebro aprende mais quando há um certo grau de dificuldade.


Esse é nosso primeiro ponto:



Princípio 2) A dificuldade gradual



Lembra das primeiras dicas de poliglotas para aprender idiomas? Estávamos vendo que os gregos aprendiam com histórias, não é verdade?


Olha que interessante isto: os gregos liam e reliam as mesmas histórias, mas sempre de maneira gradual.



"Tel est le secret de la pédagogie homérique: l'exemple héroïque. Comme le moyen âge finissant nous a légué l' Imitation de Jésus, le moyen âge hellénique a transmis, par Homère, à la Grèce classique cette Imitation du Héros. C'est en ce sens profond qu'Homère a été l'éducateur de la Grèce" - Marrou, p.44



"Homer was the fundamental source for the Greek notions of divinity and humanity in the widest sense; he was their codex in religion, their teacher in military affairs, and in their primary history, which all their geography applied to and all their history connected with until rather late. An uninterrupted critical, aesthetic, antiquarian, and linguistic study of Homer continued through the age of the Roman emperors and deep into the Byzantine period." ? Burckhardt.


"par la pratique de l'exégèse allégorique, Homère était utilisé pour illustrer la philosophie elle-même idem - Marrou p.40"
"l'idée, fondamentale dans l'Antiquité, de la valeur psychagogique du discours et de l'importance capitale de la maîtrise de la parole" - Qu'est-ce que la philosophie antique ? Pierre Hadot p.41


Digamos que era uma escadinha: primeiro adestrava-se o imaginário para depois começar a filosofar.


Eis então nosso segundo ponto


Antes de passar para o "como fazer" vamos ver um resumo breve do que vimos até agora



Suprema dica poliglota, o chamado graded reading, ou como aprender idiomas lendo histórias



Que vem a ser "graded reading" Eliezer?


Imagine que alguém algum dia resolveu pensar assim: "qual é o tipo de conteúdo que eu posso consumir no meu nível que me ajude a me divertir e também caminhar para o próximo nível?"


O graded reading soluciona esse problema.


O graded reading (ou grade de leitura, em uma má tradução) é uma escala de mídias que você pode consumir que vai do mais iniciante até o mais avançado.


Entretanto, como estou dando dicas poliglotas para você, não vamos usar uma grade de leitura pronta, feitas por essas empresas de idiomas não.


Eu fiz uma pra você, fruto de muito tempo e teste.


Você é um herói ou uma heroína se leu tudo até aqui.


Por isso merece meu presente.


Eu mostro nesse vídeo abaixo como você deve graduar os níveis de leitura das melhores mídias que eu encontrei.




No vídeo eu mostro o passo a passo de qual mídia usar a depender do nível que você está no idioma.


Mostro qual é o melhor tipo de história pra você, que não seja nem tão fácil e nem difícil, e também demonstro como ir graduando as histórias que você lê.


No vídeo eu falo sobre um PDF que você pode baixar grátis clicando aqui. Se você não faz parte do grupo exclusivo do telegram, clique aqui para fazer parte e receber conteúdos exclusivos.


Espero que você goste, isso me deu um trabalho de muito tempo e testes pra fazer.


Eu precisava testar qual mídia estava em qual posição na tabela, para poder deixar a dica poliglota bem organizada.


Aproveite!



Onde achar recursos para aprender idiomas com histórias



Se você entendeu meu vídeo e a tabelinha que eu dei grátis para você, então deve entender que qualquer tipo de mídia pode servir.


Se você seguir a graduação estará no caminho certo.


Você pode buscar recursos nos seguintes locais:


  1. Joga no google a mídia + idioma, por exemplo: "HQ english"
  2. Se você está aprendendo inglês, use séries de Graded reading, como essa de oxford que você pode ver clicando aqui.
  3. Há alguns sites que disponibilizam histórias por níveis, como esse do British council. (Cuidado para elas não serem chatas demais para você)
  4. Comunidade Fluência RPG. Na comunidade, temos vários recursos listados por nível que você pode encontrar em vários idiomas. Se você quer entrar na comunidade, clique aqui e entre para a lista de espera.



Dicas poliglotas avançadas: o nível 6 do graded reading



No PDF que eu dei para você acima, há o nível 6 que são histórias de fantasia, como Harry Potter.


Felizmente eu fiz um vídeo passo a passo pra você saber tirar o máximo desse tipo de conteúdo, aprendendo muito com eles!


Ah... mas não se esqueça, se você ainda não está naquele nível, vá graduando conforme a ordem da tabela viu, do primeiro (mais fácil) ao mais difícil (último).





Conclusão as dicas poliglotas para aprender idiomas com histórias resumidas em uma frase



Histórias são ótimas para aprender idiomas, os gregos sabiam disso e tornaram a educação de jovens como Aristóteles totalmente baseadas em histórias; eles usavam histórias que não eram nem tão fáceis nem difíceis e iam graduando a dificuldade das histórias aprendidas para sempre avançar no conhecimento; podemos fazer o mesmo com o chamado "graded reading" ou seja, uma graduação de mídias para consumir histórias, que vá do mais básico ao mais avançado, divertindo-se rumo à fluência.


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