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Neste post, você irá descobrir como acabei gerando mais valor com menos esforço na construção da fluência enquanto explorei as bases da produtividade moderna aplicada aos idiomas. Foi nessa jornada que acabei mudando profundamente minha vida e visão de mundo. Neste post você verá:






1) Produtividade moderna



As definições de produtividade moderna aparentam ir por dois caminhos. O primeiro é definir produtividade apenas como um conceito de produção; esse é o caso dos maiores dicionários de lingua latina hoje disponíveis (Aurélio, Petit Robert e RAE)


A segunda definição de produtividade envolve eficiência e é melhor resumido pelo dicionário de Oxford para sociologia:


the ratio of output to input
A taxa de resultados pela de trabalho


Essa ideia de trabalho pode tomar várias acepções. Uma delas é a acepção chinesa de trabalho laboral:


?????????????
"Instalações de produção que geram resultados com eficiência"


Outra definição seria a noção espanhola de ?utilidade?, a ideia de de ?producir cosas útiles? conforme o Maria Moliner.


Seja como for, as definições modernas de produtividade focam ou no processo ou no resultado, e esquecem o que vem antes do processo e antes do resultado: o ?saber fazer?, o ?conhecer?.



Uma definição moderna da produtividade moderna



Para mim produtividade é

Compreender as arquiteturas de um sistema para então gerar mais valor com menos energia. ? Eliezer M. Piano


Essa é uma definição simples, baseada nos livros de Peter Morville.


Ela não quer dizer que não haja aí uma equação básica de quantidade sobre tempo, como lapidado pelo nosso grandíssimo dicionário de sociologia de oxford.


Claro que produtividade tem a ver com eficiência, mas não tem só a ver com eficiência.


O conceito de produtividade envolve, também, saber, em primeiro lugar, qual o sistema, o ambiente em que você está inserido.


É a partir deste ponto que você, desvendando a arquitetura desse sistema ? seus princípios subjacentes ? pode gerar mais valor em menos tempo e com menos energia.


Deixe-me dar um exemplo.


Imagine um carpinteiro que constrói cadeiras em madeira polida.


Se esse carpinteiro quer ser mais produtivo, ele primeiro tem que estudar alguns modos de como fazer cadeiras.


Imagine que ele descobre três modos diferentes de fazer a mesma cadeira:


Modo a) usando 50 pregos e 1 metro de madeira

Modo b) usando 50 pregos e 2 metros de madeira

Modo c) usando 40 pregos e 2 metros de madeira.


Imagine que ele possa mesclar os modos de fazer cadeiras sem nenhuma perca no resultado final.


Ora, o modo mais produtivo seria misturar o modo C, que usa apenas 40 pregos, com o modo A, que usa apenas 1 metro de madeira.


O que levou ao resultado final mais produtivo foi o conhecimento prévio que ele adquiriu ao estudar as várias formas de fazer uma cadeira.


Não foi o processo.


Nem o resultado.


A produtividade foi atingida antes mesmo do produto ficar pronto: a produtividade tem mais a ver com ?saber como fazer? do que com o processo produtivo em si.

É exatamente isso que a parte da minha definição que diz ?entender as arquiteturas de um sistema? quer dizer: entender essas arquiteturas é estudar os vários modos de chegar a um mesmo resultado.


Depois que você tem esse conhecimento, pode então gerar mais valor, gastando menos energia.


É por isso que a minha definição de produtividade é esta:


Produtividade é compreender as arquiteturas de um sistema (saber como fazer) para então gerar mais valor com menos energia (então produzir). ? Eliezer M. Piano



A base da produtividade moderna



Hoje vivemos na era da informação.


As coisas mais importantes hoje em dia gravitam em torno da informação: a informação é o artefato mais importante da nossa era.


Entretanto, se você não consegue lidar com toda essa informação, começa a sentir-se sufocado, mal informado e, sobretudo, perde todos os benefícios que todas essas informações tem a lhe proporcionar.


Produtores de conteúdo, empresas, professores, palestrantes, profissionais da tecnologia, advogados, médicos? qualquer profissão hoje em dia requer informação para que você se destaque nela.


Na economia de hoje, todos precisam ser um pouco artistas.


É exatamente por isso que a base da produtividade moderna hoje é o ?Gerenciamento de inteligência pessoal? ou ?Personal Knowledge Management?.


Quem consegue lidar com a informação sempre acaba saindo na frente.


É exatamente isso que grandes empresas como Google, Microsoft, Apple e tantas outras, colocam em ação dia após dia. Gerenciam a inteligência e as informações sobre sua área de atuação ? ou, para ficarmos no mesmo vocabulário, gerenciam a inteligência e informações sobre a arquitetura de seus próprios sistemas.


Gerenciar nossa inteligência pessoal passa a ser então um processo fundamental da produtividade moderna. Só gera-se mais valor com menos energia aquele que consegue encontrar a informação certa na hora certa. (Environment findability)



Como gerar mais valor com menos energia na era da informação



Se Aprender as arquiteturas de um sistema nos leva a gerar mais valor com menos energia, e gerar mais valor com menos energia é a base da produtividade na era da informação, então temos que aprender as arquiteturas de um sistema é a base da produtividade moderna.


Seja em empresas, consultórios, criação de conteúdo, estudo ou desenvolvimento de software, em qualquer área, a primeira coisa a se fazer é entender as arquiteturas desse sistema.

A mesma coisa vale para idiomas.


Se você quer avançar rumo à fluência de modo produtivo, gerando mais compreensão, sabendo mais vocabulário, falando sem travas? usando menos energia? então deve conhecer as arquiteturas dos idiomas.


É exatamente por isso que passei anos da minha vida estudando poliglotas. Eles são as figuras que entenderam as arquiteturas dos idiomas.


É na figura do poliglota e em suas técnicas que desvendamos a chave da arquitetura dos idiomas.


Eles são os responsáveis por mapear a informação disponível sobre idiomas. Eles descobriram a chave em meio a tanta informação.


Tendo essa chave, podemos gerar muito mais valor, com muito menos energia. Podemos desenvolver uma fluência produtiva.



2) Sabedoria poliglota



Essa minha ideia de procurar, na figura do poliglota, a luz no fim do túnel foi, para mim, a única solução possível.


Não é verdade que quando temos um problema, vamos atrás da melhor pessoa possível para nos ajudar a solucioná-lo?


Eu não sei você mas eu prefiro que um cirurgião experiente e capacitado faça um procedimento em mim ou em qualquer pessoa da minha família do que tentar a sorte em alguma clínica ?clandestina? qualquer.


Essa nossa inclinação humana de buscar o ?sábio? não é nova.



A figura do sábio



A ideia de buscar um ?mentor? remonta até mesmo aos gregos. O personagem ?Mentor? aparece como filho de um habitante de Ítaca, denominado Álcimo. Era um amigo fiel de Ulisses e este, ao partir para Tróia, na Odisséia de Homero, confia-lhe a missão de velar pelos seus interesses e cuidar da educação de seus filhos.


Em 1699 o escritor Fénelon, em sua ?Les Aventures de Télémaque? tornou Mentor um personagem principal que escolta heróis por todos os lugares. Ao final,ele revela sua verdadeira identidade: Minerva, a deusa da sabedoria.


Desde então a figura do sábio, do mentor, está presente em toda a história ocidental.


Para os estoicos, segundo René Brouwer, o sabio seria quem saberia seu lugar no mundo, onde ele se encaixa perfeitamente. Como diz Pierre Haddot, o sábio tem uma postura inabalável, sabe onde está e para onde vai:


Les choses ne peuvent nous troubler parce qu'elles ne touchent pas notre moi, c'est-à-dire le principe directeur qui est en nous: elles restent aux portes, à l'extérieur de notre liberté - Hadot La citadelle intérieure


Em outras palavras, o sábio é aquele que mapeou as arquiteturas de onde deve atuar.


Sabe o que deve fazer pois o terreno que pisará já é conhecido por ele.


O sábio, então, seria não apenas aquele que sabe, mas o que possuí todas as condições necessárias para produzir (seja conhecimento, sabedoria, reflexões, produtos etc?) com menos energia.


Todo sábio é também um geógrafo. Ele não apenas sabe como chegar, sabe o melhor caminho para chegar.


Foi exatamente por isso que, buscando entender mais o processo de aquisição da fluência, voltei-me para estudar os poliglotas.


Eles tinham o mapa mais produtivo para que eu e você pudéssemos percorrer.


Os poliglotas seriam os ?sábios? dos idiomas.


Os poliglotas modernos são pessoas que se constroem em vários idiomas: não há nada de talento inato e genético. Eles apenas comparecem, todos os dias, seguindo fórmulas já bem conhecidas para o aprendizado produtivo de idiomas.



O talento é sobrestimado



Quando você começa a estudar a história de quem aprendeu oito, nove, quinze, vinte, cinquenta ou até setenta idiomas, se depara com um grande elefante branco: ?não seria genética? É puro talento!?

Estudando 697 especialistas de destaque em diversas áreas o professor Robert W. Weisberg mostra que a chave do sucesso provém do estudo constante; do comparecer todos os dias.


years of immersion in a discipline is a precursor for the capacity to produce novel work. p. 241


Nos poliglotas o padrão se repete: o esforço contínuo, todos os dias, construíram os maiores poliglotas. Você não encontra nada de geneticamente superior neles, ou algum talento escondido.


Como Geoffrey Colvin mostra, dado um mesmo período de tempo aprendendo um instrumento, um músico que demonstrou talento natural no aprendizado não é de modo nenhum melhor do que outro músico que era péssimo no começo do processo de aprendizado.


Lendo biografias de poliglotas e acompanhando seus progressos e métodos você vê um trabalho constante, todos os dias, para construir a fluência.


Research proves that superior performance is virtually entirely due to ?deliberate practice?: well-defined activities performed with repetition and diligence ? Geoffrey Colvin


Poliglotas apenas praticaram mais e melhor do que qualquer outra pessoa.


Deixe-me dar o exemplo de Emil Krebs, um hiperpoliglota alemão, conhecido por ter conhecimento em mais de 60 idiomas e poder falar de modo fluente em mais de 30.


Krebs nasceu em 1867 em uma família humilde, filho de carpinteiro. Frequentou a escola primária de interior e só em 1878 entra em contato com estudos de idiomas.


Após estudar várias línguas no currículo escolar, decide então começar a aprender o Chinês, por ser uma das línguas mais difíceis para se aprender, segundo seus professores.


Krebs começa a aprender Chinês em 1887. Quatro anos se passam. Krebs em 1890 passa em seu primeiro teste de Chinês, aplicado pela universiade de Berlin, com ?boas? marcas. Veja-se foram quatro anos de estudos intensos. Krebs era conhecido por não ser sociavel e passar mais de 10 horas estudando todos os dias.


Somente três anos depois, em 1893, Krebs será enviado como aspirante a intérprete na China. Contemos os anos: 7 anos, contando com o ano de 1887, para que ele se tornasse proficiente o bastante para trabalhar com o Chinês.


Michael Erard escreve um livro intitulado ?Babel No More: The Search for the World's Most Extraordinary Language Learners?. A todo momento o autor tenta apequenar o trabalho árduo de Krebs, diminuindo-o a alguma instância genética. O autor mesmo faz-se essa pergunta:


? ?Não pode ser apenas estudo, ele deve ter algo na sua genética?. (p. 188-190)

Tamanha foi a tentativa de explicar as habilidades linguísticas de Krebs, que o próprio autor levou neurocientistas para analisarem o cérebro de Emil Krebs. Falecido em 1930, seu cérebro passou a fazer parte da coleção de Oskar Vogt na Alemanha.


De fato, cientistas descobriram que a região responsável pela linguagem (uma delas, a de maior predominancia, digamos) no cérebro de krebs era expandida de determinada forma. Pensando ter encontrado finalmente a resposta, Erard pede ao cientista:


?How long would it take for Krebs?s brain to develop like that? Could it happen in a year? Or is that the lifetime of change? Or was he born like that??
?Quanto tempo demorou para que o cérebro de Krebs se desenvolvesse desta maneira? Poderia ter sido em um ano? Ou é uma mudança gradativa ao longo da vida? Ou ele nasceu assim??


Então o neurocientista responde:


?Zilles said he didn?t know. Such changes can come from training, he said. Persistent overuse could be a simple reason for the cells? peculiar arrangement as well as his brain?s remarkable symmetries. p.190?
Zilles responde que não sabe. Tais mudanças podem vir através da prática, disse. O uso persistente [desta área do cérebro] poderia ser a razão mais simple para que suas células ficassem aranjadas dessa maneira, o que também explica sua memorável simetria cerebral.


A chave do sucesso de tantos poliglotas, como Krebs incluso, não é algo genético, mas algo muito simples: persistência e constância.


Citarei alguns outros exemplos que você mesmo pode estudar e tirar as próprias conclusões.


Eu também falo mais sobre isso neste vídeo clicando aqui.



Essas figuras não são super-humanas. Foram humanos que se fizeram super, comparecendo todos os dias. Chamá-los de gênios é apequenar seu esforço.



Albert Einstein (lógica e matemática), Stravinsky (música), Mahatma Gandhi (interpessoal) Freud (psicologia) T.S. Eliot (linguagem) todos seguiram um longo periodo de desenvolvimento e aprendizado antes de serem considerados ?gênios?.


O mesmo acontecem com poliglotas, além de Krebs já citado: Kató Lomb, Rousseau, Carpeaux, Lucca, Hobbes, Ronai e tantos outros? o esforço contínuo, todos os dias, construíram os maiores poliglotas.


Dito isso fica claro que o processo de fluência não tem nada a ver com genética, mas sim com o ?saber como fazer?. Essa é a especialidade máxima de um poliglota; saber exatamente o que fazer para atingir a fluência. Por isso, e exatamente por isso, o poliglota apareceu-me como a figura salvadora, do sábio moderno para o aprendizado de idiomas.



3) Sabedoria poliglota aliada à produtividade moderna: a descoberta que me chocou



Foi então, depois de muitas tentativas e frustradas, que eu finalmente entendi como aprender idiomas de um modo produtivo e inteligente: era necessário unir a sabedoria poliglota à produtividade moderna.



A sabedoria poliglota: daí vem a chave



Como disse anteriormente, os poliglotas erguem-se como as figuras que melhor mapearam os reinos dos idiomas. É deles que vem a chave para desbloquear qualquer idioma; é deles que vem a capacidade de acelerar a compreensão e desenvolver a fala.


Estava eu em frente a um castelo fechado toda vez que começava aprender um idioma novo. Não sabia o que fazer, por onde começar.


Quando eu descobri qual era o primeiro passo que todo poliglota dava ao aprender um idioma, depois o segundo passo, terceiro, e assim sucessivamente? foi como se meus olhos abrissem.


Há uma chave para abrir qualquer idioma, adentrar profundamente cada castelo e essa chave é o método poliglota.


Mas só isso não basta.



A produtividade moderna: não basta ter a chave, tem que saber quais portas abrir



Se por um lado você tem a chave para abrir e desbloquear qualquer idioma, por outro deve saber quais portas abrir para ter um avanço mais produtivo.


É exatamente neste ponto que a produtividade moderna toca a sabedoria poliglota.


Quando você começa a aprender vocabulário, precisa saber quais palavras aprender.



Na maioria dos idiomas 2000 palavras mais frequentes são o suficiente para você alcançar um nível básico e até mesmo um intermediário. O detalhe é que você precisa aprender apenas as palavras que são frequentes.


Um dos maiores dicionários disponíveis hoje é o OXFORD Advanced Learner?s Dictionary, que conta com mais de 600 mil palavras. Isso significa que há, pelo menos 598.000 palavras que você pode aprender que não te levarão a lugar algum!


A primeira vantagem, então, de usar a produtividade e tecnologia moderna, é saber quais são as palavras mais frequentes e passar a aprendê-las.


A segunda vantagem que a produtividade proporciona é a capacidade de acelerar nosso nível de compreensão.


Em 1908 Robert M. Yerkes e John Dillingham Dodson formularam aquela que ficou conhecida como a Curva Yerkes-dodson ou curva em U invertido, representada abaixo:



A curva em U invertido mostra que, se uma atividade que você faz é muito fácil (esquerda da abscissa), você acha aquilo chato e acaba se desmotivando.


Imagine, por exemplo, você jogando tênis contra uma criança de colo. Ela nem segura na raquete ainda! Isso é altamente desmotivador para quem quer praticar o esporte.


Entretanto, se for muito difícil (direita na abscissa), você não consegue fazer a atividade, e acaba se desmotivando e desistindo.


Outro exemplo do tênis seria um iniciante jogar contra um campeão mundial, tais como Rafael Nadal ou Roger Federer. Seria um massacre! Nem um pouco motivador!


O melhor ponto é onde existe uma dificuldade desejada: que não seja nem tão fácil mas também nem tão difícil. Inclusive, como mostra essa pesquisa de Stanford, o nosso cérebro aprende mais quando há um certo grau de dificuldade.


Com o auxílio da produtividade e tecnologia moderna, sabemos quais conteúdos consumir, ou seja, conteúdos que estão no meio desta curva, nesta parte onde a dificuldade é desejada.

Usando softwares adequados e com uma equipe treinada, pode-se ser capaz de criar um mapeamento de certas mídias, para que o aluno comece assistindo, lendo e ouvindo a conteúdos que são mais fáceis no começo e vão, gradativamente, ganhando certa dificuldade.


A tabela abaixo é um exemplo deste mapeamento. Aí estão mais de 70 séries em inglês, todas mapeadas por níveis de dificuldade.






Para cada um dos idiomas que há na comunidade FRPG temos milhares de mídias mapeadas, exatamente como nesta tabela. Isso inclue livros, filmes, séries, jogos, revistas, áudios, quadrinhos etc. em 5 idiomas diferentes.


Desta maneira, aprendendo o vocabulário mais frequente e se expondo ao conteúdo certo para o seu nível, sua compreensão atinge níveis muito altos em pouquíssimo tempo.

A terceira vantagem proporcionada pela produtividade moderna tange o reino da fala.


O desenvolvimento da fala poliglota, ao contrário do que muitos pensam, é um fluxo longo e completo que envolve sim o treinameto. Esse fluxo envolve exercícios para ganhar mais velocidade na fala, destravar certos sons, ganhar cadência e até mesmo sotaque.


Após ter entendido a maioria desses exercícios e práticas o grande desafio seria colocá-los em um modo simples e produtivo para que qualquer pessoa pudesse fazer.


Felizmente os japoneses fizeram isso, com processos levemente diferentes.


Entre 1945 e 1975 o sistema Toyota de produção foi criado no Japão. Esse sistema pauta-se sobre um princípio apenas: o fluxo otimizado.


Em linhas rústicas, todo o sistema de produtividade da Toyota desenha-se em:


  1. Entrada: Otimizar a entrada (input) de tecnologia, experiência, produtos e insumos para a fábrica.
  2. Relações: Ter estabilidade nas relações entre homem-máquina e insumos, buscando os melhores resultados possíveis sem desperdícios.
  3. Objetivo: Finalizar com maior qualidade, menor preço e período de tempo.


A foto abaixo representa o sistema de produtividade da Toyota resumido.




É exatamente seguindo esse mesmo princípio de ?fluxo otimizado? que podemos desenvolver nossa fala:


  1. Entrada: palavras, estruturas e sons frequentes.
  2. Relações: Passo a passo otimizado para treinar a fala do zero ao avançado.
  3. Objetivo: construir uma pronúncia fluente e muitas vezes confundida com nativa.


Eis então a terceira contribuição da produtividade moderna à sabedoria poliglota: otimizar o fluxo para que qualquer pessoa possa desenvolver sua fala do zero à fala completamente destravada.


Transpor um sistema de produtividade pensado para uma fábrica para um sistema de aprendizado de idiomas que verdadeiramente funcionasse não foi tarefa fácil. Mas felizmente foi possível, como diz Renan:


? La verité est une nuance entre mille erreurs?
? A verdade é uma nuance meio a milhares de erros?


Depois de centenas de alunos obtendo sucesso com esta formula Poliglota + produtividade percebi que estava cada vez mais perto de realizar um grande sonho: compartilhar minha visão de mundo com outras pessoas; afinal de contas essa é a minha filosofia poliglota, é como eu vejo o mundo.


Então, para resumir, minha jornada foi, na verdade, muito simples:

  1. Primeiro eu busquei saber o que era a produtividade moderna, para poder gerar mais valor com menos energia.
  2. Descobri que a primeira coisa a se fazer quando se quer estudar algo, aprender alguma coisa, é mapear as arquiteturas deste sistema.
  3. Como o campo que eu queria aprender eram os idiomas, voltei-me aos poliglotas para encontrar estas estruturas.
  4. Foi então, após ter conhecidos métodos poliglotas, resolvi uní-los à produtividade moderna: é necessário saber quais portas abrir, e como acelerar este processo.


Este processo, entretanto, marcou-me profundamente. Eu mudei no processo. Mais que isso, a minha visão de mundo passou a ser diferente.


Quero compartilhar com você esta visão de mundo agora.



4) Filosofia poliglota: Como eu vejo o mundo



Qual é a minha filosofia poliglota afinal de contas? Para mim a seguinte frase de Mario Perini resume tudo que penso sobre idiomas:


Falar três idiomas é, até certo ponto, ver o mundo de três maneiras diferentes.


Eu acredito que os idiomas são artefatos importantes que podemos desvendar e passar a enriquecer-se muito com aquilo que podemos aprender através deles.


Esse aperfeiçoamento de nós mesmos através dos idiomas é o que creio ser o esforço tactível da ética.


Bom, eis uma palavra difícil de explicar em poucas linhas: ?ética?.


Antes de falarmos dela então deixe-me esclarecer minha filosofia poliglota.


Acredito que nós como seres humanos sempre podemos ser melhores. Podemos fazer diferente, sermos melhores que ontem.


Esse esforço para se viver melhor é o que entendo por ética.


Para mim não existe nenhum esforço para se viver melhor que seja mais real que aprender um novo idioma.


Aprender um novo idioma é abrir-se a todo um novo mundo que até então estava fechado a nós. É ser mais humanidade e menos humano; passar a viver de modo mais alargado.


É exatamente por isso que a frase de Perini resume tudo ?ver o mundo de maneiras diferentes?.


É participar de viveres maiores!


Quando me deparei com isso ao aprender meu primeiro idioma, senti-me de um modo que não conseguiria expressar aqui.


Foi uma sensação inexplicável.

Como foi esta sensação, você deve estar se perguntando? Bom, tentarei descrever em palavras aquilo que sinto quando uso algum dos idiomas que sei.


Perdoe-me você mas a plenitude do sentimento não pode ser expressa em palavras, como bem disse Álvaro Lins.


Deixo aqui um relato fino dos sentimentos e impressões que cada um dos idiomas que sei marcam em mim; faço isso na esperança de convencê-lo a participar disso também.



O espanhol, terra quente



Quando leio algo em espanhol, comunico-me com ele ou ouço alguém falar neste idioma, sinto-me com os pés fincados em terra quente.


A sensação vem de enxergar o mundo com um quê ?caliente? e firme.


Sei que o espanhol é a lingua de D. Quixote, dos sonhos. Mas são sonhos reais. Quixote é aquele que sonha acordado, vive o sonho.


"Apierta, caballero, la lanza y quítame la vida pues me has quitado la honra" ? Don Quijote libro II


Vida, honra, palavras abstratas vividas na pele. É assim que vejo o mundo em espanhol.


Nada em espanhol me parece distante ou abstrato. Pelo contrário, parece-me próximo, palpável, com textura.


'Amor definido deja de serlo" Diz Unamuno. Para mim o amor espanhol tem um quê de ação, um quê de estar próximo. É o idioma da firmeza e da proximidade.


Esse para mim é mundo com as cores do espanhol.



Francês, terra da sutileza elegante



?Par délicatesse j?ai perdu ma vie? Diz Reimbaud.


Eis uma frase que não faz sentido senão em francês. Idioma para mim da sutileza e elegância.


Há sempre algo a mais em cada palavra, algo que você sabe que está lá mas não menciona. O mistério é mais misterioso em francês, a vontade mais curiosa, o amor mais delicado, macio.


Se fosse para transformar em textura um idioma, certamente seria o cetim.


É firme, forte, não se rasga facilmente; mas é ao mesmo tempo elegante e sutil.


parce que la passion n?est belle et furieuse que quand il s?y mêle de l?impuissance ? Balzac, Lys dans la vallee


Dito isso o amor em francês, para mim tem sempre o elemento da saudade, da falta. Por ser a linguagem da sutileza, nada nunca parece completo, sempre há um desejo por mais, há sempre a ?impuissance? em qualquer palavra, expressão ou pensamento.


É um idioma de não ditos. Esse para mim é o mundo com as cores do francês.



Italiano, terra do conforto, aconchego e segurança familiar



?chiamamo belle le cose di colore nitido." ? Umberto Eco


Acho que o sol brilha mais aconchegante em italiano.


Não tenho como explicar minha sensação ao usar o italiano senão por essa analogia. Sempre morei no sul do Brasil, onde faz frio em determinados períodos do ano. Uma das melhores sensações que há é estar sendo banhado pelo sol quente em uma tarde de inverno.


Aquele calor que aquece e te conforta, que mantém você seguro.


É assim que me sinto quando uso o italiano. Um idioma repleto de cor, nitidez aconchego e beleza.



O Japonês, terra da relação e respeito



Quando você gosta de algo, como por exemplo de café, como você difira isso em português, por exemplo?


?Eu gosto de café?. Certo? Como diríamos em Japonês?


???????


Olha que interessante; no português a ênfase que fazemos é o ?EU? certo? Sou EU quem gosta de café. Tem tudo a ver comigo esta frase. O café é um mero objeto.


Em Japonês a palavra ?Eu? nem aparece de modo tão frequente assim, e por quê?


Pois o japonês é um idioma que não foca o nosso ego, o nosso eu. Ela abraça uma relação, como a relação de gostar, como um ato completo: deve envolver quem gosta e o objeto gostado.


Literalmente em japonês está escrito ?(para mim) café é gostável?.


Isso significa que a ênfase desta frase, assim como em todo o japonês, não é colocada sobre uma pessoa, um ego, mas na relação entre aquilo que gostamos, desejamos ou fazemos e nós mesmos.


Só gosto do café pois há algo nele, uma subjetividade, que evoca a minha experiência de gostá-lo.


O Japonês faz-me pensar mais na relação que as coisas e pessoas ao meu entorno tem em mim: como o mundo ressoa em você e você nele.


Vendo o mundo assim, você se desloca de um ego fechado e abre as portas da boa vontade para como o mundo em um gesto largo de acolhimento.


Passei a ter muito mais respeito por quem me rodeia e pelas ações que faço no mundo.


É um idioma de relações e respeito e acolhimento.



Português, terra da alegria amarela



?E se alguma cousa há que possa fazer-me esquecer as amarguras da vida, é o gosto de haver enfim apanhado a verdade e a felicidade.? ? Machado de Assis


Eu sei que o português provavelmente é seu idioma nativo também, então você deve ter suas próprias impressões dele; eis as minhas:


O português é brincalhão, amarelo, risonho. Idioma complexo para construir sentenças e acertar regências; mas basta uma palavrinha para fazer rir.


Não é apenas por ser meu idioma nativo mas pelo mundo ser mais jocoso em português.


Claro que ela, como todas as outras línguas, pode ser violenta e repressiva. Entretanto do meu ponto de vista ela é branda, brincalhona, serelepe.


É a língua que, de tanto brincar, acaba dando espaço a construções dançantes como estas de Machado:


?A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência?
?Não gastei dinheiros, cuidados, empenhos para te não ver brilhar?



Inglês, a terra do fato



We are such stuff as dreams are made on; and our little life is rounded with a sleep. ? Shakespeare The Tempest.


O inglês é, para mim, o idioma do fato.


A citação acima vem bem contra a isso, a uma primeira vista; fala de sonhos, da vida e de uma maleabilidade que ela tem; característica daqueles. Entretanto em inglês isso parece fato, uma verdade dita que não pode ser contrariada.


Para mim o inglês é o idioma dos pontos finais, das frases curtas, do sujeito, verbo e objeto em ordem.


Claro que você encontra exceções, como em todos os idiomas, mas é o idioma da firmeza no falar, da vitória do fato sobre a elocubração.


Não é atoa que o maior poeta da lingua inglesa, bem como a maior romancista do inglês, nunca entram na cabeça de seus personagens: conhecemos o interior pelo que é dito.


?I have been a selfish being all my life, in practice, though not in principle.? Jane Austen, Sense and Sensibility


É a linguagem natural de David Hume:


?morality?is more properly felt than judg?d of?



Mandarim, terra da profundidade interconectada



Entre as línguas que tive o privilégio de aprender, o mandarim se destaca por sua profundidade.


Cada caractere me parece a mim um traço de pincel que pinta uma imagem vívida, e cada tom carrega uma melodia que ecoa pela história. Quando me envolvo com o mandarim, sinto-me enraizado em uma cultura que valoriza a precisão, a sutileza e a interconexão: presente, passado e futuro tudo em uma letra.



O profundo da fluência tem tudo a ver com ética



Você entendeu que idiomas para mim tem a ver com alargar seu mundo, abrir mundos novos que estavam até então fechados a você.


não se trata simplesmente de ?uma outra maneira de 13 dizer as coisas? (table em vez de mesa, te quiero em vez de eu te amo), mas de outra maneira de entender, de conceber, talvez mesmo de sentir o mundo ? Mário A. Perini. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios.


Para mim isso tem tudo a ver com o que entendo por ética. Para mim, a ética tem tudo a ver com um esforço para se viver melhor.


Para mim a ética não tem nada a ver com virtudes pré determinadas, onde haveria um encaixe entre suas capacidades e a esfera em que você atua. Para mim a ética não é eudaimonia (encaixar os seus talentos nas condições ideais para que ele desabroche).


Ela também não é um conjunto de regras e princípios que elegemos para nos governar (deontologia)


Para mim a ética é um esforço para sempre se fazer e viver melhor, e isso pressupõe que:


  1. Nunca chegaremos ao ápice dela, sempre é possível melhorar, fazer melhor
  2. A ética como um esforço ao melhor traduz-se em não existir uma resposta certa, mas em um movimento da perfectibilité, palavra que tomo emprestado do francês por não existir semelhante no português. A ética é uma aperfeiçoabilidade, uma melhoria contínua.


Daí que para mim, o esforço mais belo e mais capaz de transformar é o aprendizado de idiomas.


Através de uma lingua nova você passa a ser mais humanidade e menos humano. Você passa a abrir mundos novos que te estavam fechados. Passa a ver o mundo com outras cores.


Você passa a viver uma experiência humana; um alargar seus horizontes para a além da dimensão da existência pessoal indo de encontro à humanidade: que lhe justifica, da sentido e uma direção.


Essa filosofia humana da perfectibilité encontra no dia a dia suas raízes. Abrirá, com o passar do tempo, caminhos rios e feiches de luz em sua alma que nunca mais serão enterradas.



O profundo da fluência vem do dia a dia



É claro que essa recompensa toda, de um viver mais alargado, vêm da constância, dia a dia aprendendo algo novo.


Nossa vida é uma caminhada cujo destino final, terreno, é a morte. É nessa caminhada, dia a dia, que devemos aprender algo novo todos os dias, antes que a jornada acabe.


Uma palavra, uma expressão, um som novo. Algo mesmo que insignificante, que ao longo do tempo, mudará você por completo. Não é senão de gotas que o oceano é feito.


Ecco il nostro errore: vediamo la morte davanti a noi e invece gran parte di essa è già alle nostre spalle: appartiene alla morte la vita passata. Dunque, Lucilio caro, fai quel che mi scrivi: metti a frutto ogni minuto; sarai meno schiavo del futuro, se ti impadronirai del presente? ? SENECA


É uma filosofia aparentemente barata: 1% melhor todos os dias. Entretanto, da simplicidade retira sua força.


Não deixa-se para viver o amanhã o que podemos aprender hoje. Cada dia é um degrau, que subimos, aprendemos e avançamos no junco da nossa transformação. Palavra a palavra, estrutura a estrutura:


Pues si vemos lo presente

cómo en un punto se es ido

e acabado,

si juzgamos sabiamente,

daremos lo non venido

por pasado.

Non se engañe nadie, no,

pensando que ha de durar

lo que espera

más que duró lo que vio,

pues que todo ha de pasar

por tal manera. ? MANRIQUE


Essa jornada diária traz mais benefícios que apenas o financeiro, mas faz você se acostumar mais com a jornada, aprendendo que ?Viajar é mais interessante que chegar? (Augusto Meyer).


Com o progresso contino dos idiomas aprendi que nada vence o esforço. Não há talento em idiomas que vença o comparecer, todos os dias, uma palavra, uma estrutura, um som. Sempre, um passo atrás do outro, o comparecer nos idiomas te vai transformando dia a dia.


Falei muito sobre isso nesta aula gravada no YouTube.


Essa estrada transforma-se em um hábito virtuoso, um ciclo de repetição. Quanto mais você comparece, mais cresce seu entendimento da catedral de expressões e sentimentos que o mundo tem, e que lhe eram fechados até então.


Não há valor que pague essa jornada da perfectibilié.


Ela te leva a participar de algo maior.



5) Aprender idiomas é participar de algo maior



Ao longo de todo este artigo coloquei, de propósito, algumas citações que encontrei pelo caminho, enquanto ia aprendendo os idiomas que hoje sei.


Cada uma dessas citações é para mim uma obra de arte, um artefato valioso.


Cada uma delas foi perfeitamente esculpida e não poderíamos expressar a mesma ideia de um modo tão perfeito senão por usá-las.


O que quero dizer Carpeaux mesmo resumiu, no nosso lindo e amarelo português:


Uma obra de arte ampliou, de uma vez para sempre, os limites do dizível, e marcou uma vitória humana sobre o caos e a escuridão.


Veja-se este exemplo da definição de amor, de Montaigne:


?parce que c'était lui parce que c'était moi? ? Montaingne


Porque é ele, porque sou eu.


Frase simples, em que em um artefato, Montaigne conseguiu reunir toda a filosófica e abrangente definição e discussão sobre amor: porque é ele, porque sou eu.


Se não fosse a literatura ? poesia, ficção ? nada saberíamos do mistério individual dos outros, do seu mundo interior, da multiplicidade psicológica do homem ? Augusto Meyer.


Cada um desses artefatos expande os limites do dizível, daquilo que podemos dizer, em como podemos imaginar.


É através da Literatura, poesia, citação, cultura? que vemos e pintamos com paletas mais vivas o mundo cinza que nos abraça frio e seco.


É entender o que é viver no engano pelo Mito da Caverna, ?morrer por amor? na imagem de Romeu e Julieta? a tradução perfeita da ?alma felina? em uma personagem como Capitu:


A sedução de Capitu? vem de um não sei quê felino e profundo, com todo esse mistério de presença envolvente que irradia das personalidades fortes.


Cada vez que leio, escuto ou percebo algo que me faz expandir os limites daquilo que posso dizer, não contenho-me em apenas ler e perceber. Tomo isso para mim.


Afinal, por trás de cada um dos idiomas que colhi estão esses artefatos, essas obras de arte, esperando para que você as encontre e, mais uma vez, dê um passo no enriquecimento da sua catedral interior.


Como um peixinho dourado que nada livremente, sou um colecionador de mundos inteiros, pintados em poucas linhas; frases, versos, livros, figuras ou poemas: estão ali, aguardando-me.


Sinto-me privilegiado quando os encontro e deles nunca mais abro mão.


Participo eu agora de algo maior.


Sinto-me como Montaigne descreve neste artefato que nunca mais se apartará de mim:

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"Si j'eusse trouvé la pente douce et la montée un peu allongée, cela eût été excusable ; c'était un précipice si droit et si abrupt que, des six premières paroles, je connus que je m'envolais en l'autre monde. De là je découvris la fondrière d'où je venais si basse et si profonde que je n'eus jamais plus le c?ur d'y retomber." ? Michel de Montaigne
"Se eu tivesse achado a ladeira suave e a subida um pouco longa, ainda teria sido desculpável, mas era um precipício tão abrupto e tão escarpado que desde as seis primeiras palavras compreendi que me alçava a um outro mundo; de lá descobria o atoleiro de onde vinha, tão baixo e tão profundo, que nunca mais tive coragem de descer ali de novo." ? Tradução ROSA FREIRE D?AGUIAR